QUANTO TEMPO MEU AMIGO!

Grandes parceiros durante toda uma vida, depois de uma suposta grande ausência, reencontram-se já velhinhos.

Mantinham hábitos comuns, como o de fazer caminhadas diárias, e foi justamente numa dessas caminhadas, que eles se reencontraram.

- Hei, você ai!

- Que é?

- Não me leve a mal não, mas você não é aquele cara, que...?

- Acho que sou sim!

- Quanto tempo meu amigo!

- Que saudades, que bom poder encontrar você aqui!

- Digo o mesmo, quantas lembranças boas vem agora na mente, muitas mesmo meu camarada!

- Lembra como aproveitávamos antigamente?

- Isso é verdade, lembra aquela vez quando estávamos com... é.... Lembra aí, me ajuda caramba.

- Com 18?

- Não, mais novos, eu acho, olha só, era entre dez e dezesseis anos, acho que deu pra entender agora.

- Mas o que tem isso?

- Oh cara, tá ruim das ideias?

- Não, é claro que não, nunca estive tão lúcido.

- Preste atenção, lembra daquela menina?

- Qual menina?

- A que era meio gordinha.

- Gordinha?

- Bem não era tão gordinha assim, acho até que nem era gorda não, mas a adiposidade é o que menos importa nessa história.

- Fala logo o que tem ela?

- Do que é que nós estamos falando mesmo?

- Sei lá, melhor mudar de assunto.

- Mudar para qual?

- Ah, fala de você.

- De mim? Falar o quê? Tô na mesma de sempre!

- Isso deu para notar, você não mudou nadinha!

- E nem você mudou.

- E de resto?

- De resto, envelhecemos!

- Corretíssimo meu amigo, como vinhos, cada dia melhor!

- E o resto da turma? Nunca mais vi ninguém.

- Nem eu, lembra quando sábado era sagrado pra turma?

- Nada disso, o nosso encontro era todo domingo, mas o dia nem importa, o que importava é que respeitávamos o dia como um fiel a sua religião, era muito bom!

- Poderíamos juntar a turma novamente, que acha? Só precisamos encontrar uma forma de achar esses caras.

- Você sabe pesquisar na internet? Joga o nome.

- Sei sim, lembra do nome todo deles?

- Ih, agora deu branco, ajuda ai.

- Mudando de assunto, você está com uma cara de cansado.

- Sim, muito!

- Vamos entrar naquele bar e sentar?

– Vamos sim.

- Tudo bem meu rapaz? Veja aqui dois cafezinhos por favor.

- É para já seu Rogério! Cuidado ai o seu Sérgio, tá quente e amargo, como sempre.

Mistura de incredulidade com extremo espanto. - Como ele sabe nosso nome?

- Deve ser macumbeiro. Ele está voltando, fique atento.

- Cadê o resto do pessoal?

- Quem? Que pessoal?

- Como quem? Seu Leandro, seu Ronni, seu André e o invocado do seu Jhonny também, claro (bem que esse nunca dá gorjeta mesmo).

- Sérgio, acho melhor não contrariar maluco.

- Também acho. Eles já estão vindo meu amigo, fique tranquilo!

- Finalmente ele nos deixou em paz. Esquece esse cara, conte tudo, você está morando onde Rogério?

- É perto, virando a esquina, é na segunda rua a esquerda.

- Tá de sacanagem? Nós somos vizinhos!

- Somos?

- Sim, também moro nessa rua.

- Que máximo, por que a gente nunca se encontrou? Que doido!

- Tem uma coisa me incomodando.

- O quê?

- Esses nomes que esse cara falou.

- Já sei, também teve a impressão de que você conhece essas pessoas?

- Exatamente.

- Olha ali, está vendo aquela mulher entrando, ela está nos encarando e vindo na nossa direção.

- Oi papai! Oi tio!

- Eita, aqui só tem doido?

- Ai! Ai! Será possível? Toda sexta agora vou ter que vir aqui buscar vocês?

- Rogério, ela é doida mesmo.

- Ao menos dessa vez não vieram os seis. Vamos que o pessoal está esperando vocês, furar compromisso é feio viu.

- O que nós vamos fazer?

- Melhor obedecer.

Uma sala e seis pares de olhos cheios de dúvidas, sentados e tentando esconder o receio. Ela começou a discursar e de cara já veio dizendo que era a minha filha.

- Eu sou a Maria Clara, preciso da atenção de vocês, por favor! Tudo que eu falar também vou deixar escrito aqui na mesinha. Vocês são amigos, toda sexta vocês se encontram para bater um papo e fazer algo juntos, são todos vizinhos, o que cada um gosta de comer e beber está na geladeira com etiqueta ou já quente no fogão, divirtam-se meus amores! Mais tarde volto, e levo vocês para casa, tchau!

Os olhares, afiados como lâminas, cortam toda sala.

- E ai, o que vamos fazer?

- Por mim, vamos aproveitar, a doida aqui é ela, então, não sou eu quem vou desperdiçar nada.

Uma semana depois...

- Hei, você ai!

- Que é?

- Não me leve a mal não, mas você não é aquele cara, que...?

- Acho que sou sim!

- Quanto tempo meu amigo!

- Que saudades, que bom poder encontrar você aqui!

- Digo o mesmo, quantas lembranças boas vem agora na mente, muitas mesmo meu camarada!

- Lembra como aproveitávamos antigamente?

- Isso é verdade, lembra aquela vez quando estávamos com... é.... Lembra ai, me ajuda caramba.

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Sérgio Souza
Enviado por Sérgio Souza em 14/06/2020
Código do texto: T6977208
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