O ADVOGADO DILIGENTE

Numa isolada mansão próxima à luxuosa região dos Jardins, em São Paulo, funcionava um puteiro de alto luxo, comandado por Madame Elza, a cafetina mais bem-sucedida do pedaço. Protegida por um batalhão de truculentos seguranças a mansão costumava receber a pessoal caixa alta da cidade, executivos estrangeiros (não precisa dizer que os japoneses eram maioria absoluta), políticos, fazendeiros, enfim, gente para quem um michê de mil dólares não é absurdo. - Discrição tem preço! Diziam os frequentadores. Lá dentro, meninas das mais variadas procedências, modelos que no passado já deram certo, modelos que nunca deram certo, capas e “internas” de revistas masculinas, atrizes (!) de segunda linha das novelas de TV e um sem número de anônimas escolhidas a dedo por Madame Elza.

Como de costume, muito elegante em um de seus sempre pretos vestidos, com ousado decote, Madame Elza não escondia que já tinha siso uma das meninas de ouro da prostituição paulistana. Costumava dizer que já dormiu até com ex-presidente da República; Ministros, perdeu a conta. Dizem as más línguas que a mansão nos Jardins foi presente de um amante rico e apaixonado, envolvido pelas carícias de Elza nos seus tempos de glória e juventude.

A partir das 4 horas da tarde – quando começava o entra-e-sai da mansão – a Madame se portava na pequena antessala e recebia um a um todos os clientes. Sempre com um sorriso largo e com gestos de medida delicadeza ela ia juntando os casais, que se resolviam nos quartos do andar superior da casa. Naquela noite de segunda-feira, dia de maior movimento da casa, não foi diferente. Introduzido pelo segurança um homem alto e muito bem vestido entrou.

- Posso ajudá-lo? - perguntou a Madame.

- Gostaria de ver a Silvana, disse o homem.

- Senhor, a Silvana no momento está ocupada. Ela é uma das mais requisitadas entre nossas meninas... O senhor não quer ver outras de nossas garotas?

- Não, eu quero a Silvana - disse ele

- Então se o senhor não se importa, entre e sente-se um pouco enquanto a Silvana não desce. Enquanto isso .... – Manoela, sirva um uísque aqui ao senhor... – ou o senhor prefere outra bebida?

- Obrigado. O uísque está bem.

Passaram-se alguns minutos e, radiante em um vestido curtinho, mostrando um par de coxas fenomenais, Silvana desce o último lance da escada, chamando a atenção de todos que bebiam e conversavam no amplo salão.

Antes que algum dos presentes avançasse na Silvana, a Madame rapidamente a pegou pelo braço e se dirigiu ao homem. – Senhor, esta é a Silvana! Vou deixá-los sozinhos. E puxou os dois até uma parte do salão mais reservada.

Silvana foi muito objetiva e sem perder a simpatia foi logo dizendo:

- Senhor, as meninas aqui cobram mil dólares por uma hora de encontro.

- Não tem problema, respondeu. – Como não tenho dólar aqui, posso lhe pagar em reais? Ela assentiu com cabeça. Sem pestanejar o homem mete a mão no bolso e tira um maço de 50 notas de 100 reais e entrega a moça.

Os dois subiram para um dos quartos e depois de uma hora o senhor saiu muito tranqüilo e feliz.

Na noite seguinte o mesmo senhor apareceu de novo querendo ver a Silvana. Naquela noite, de movimento mais fraco, ela estava livre. Silvana então contou-lhe que era muito raro alguém ficar com ela duas noites seguidas e que ele fosse desculpando, mas o preço continuaria sendo o mesmo. Novamente o homem enfiou a mão no bolso e tirou outras 50 notas de 100 reais e na companhia de Silvana subiu para os quartos saindo, muito feliz, depois de uma hora.

Quando apareceu pela terceira noite seguida ninguém podia acreditar. Novamente entregou 5 mil reais a Silvana e lá se foram de novo para cima.

Silvana realmente estava intrigada pelo interesse daquele homem. Nunca, jamais, isso acontecera em seus dois anos de prostituta. A curiosidade já estava aguçada. Depois de transarem, ainda deitados na cama, Silvana resolve investigar as razões. Começou a puxar conversa:

- Ninguém nunca me pagou por 3 noites seguidas!

- É?

- Você é casado?

- Divorciado.

- Tem filhos?

- Dois, um casal.

- De onde você é?

- Piracicaba.

- É sério? Minha família é de lá.

- Eu sei - disse o homem - Seu pai morreu e eu sou o advogado de seus irmãos; eles me pediram que lhe entregasse sua parte da herança, 15 mil reais...

NEYSILVA
Enviado por NEYSILVA em 28/06/2020
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