Nostalgia

No Santa Marta nasci e cresci. De lá desci já casada e com filhos...porém quem nasce no morro e depois se muda, leva consigo uma vívida lembrança oculta: a infância e vida passadas no morro...

Morro de saudade dos amigos que infelizmente perdi para o tráfico precocemente- querido Pimpolho! E das brincadeiras nos becos estreitos, que rendiam reclamações de vizinhos, que mais tarde se tornariam francos amigos- descansem em paz! Das festas juninas organizadas pelo meu saudoso pai e seus amigos, para o deleite de várias famílias locais. Do medo enrustido e coletivo do palhaço da Folia de Reis- embora todos soubéssemos quem era, mas o Ronaldo camarada desaparecia travestido da personagem! Saudades imensas da Colônia de Férias do Grupo ECO, que ainda acontece todo ano...

As pessoas que povoaram minha meninice se eternizaram na memória. Havia a Curimá, uma vizinha já idosa, porém alcoólatra. Vivia pelas ruas e subia à noite, bem suja e com unhas pintadas de vermelho, para dormir em seu barraco. De alguma forma me incomodava tal visão, mas a minha inocência infantil exteriorizava a dor em forma de medo. Assim como ela, também me atemorizava o padeiro-lobisomem. Falavam que nas noites de lua cheia ele se transformava! Ah, e o Antonio Mengão- um vizinho flamenguista que exalava o time pelos poros, a ponto de contagiar muita gente com sua paixão! Morro de saudade de tudo e todos que me fizeram ser quem sou... o morro desce tatuado dentro da gente!

Hoje, os lugares daquela época foram cobertos pelas obras de urbanização. No campo onde aconteciam as festas e brincávamos, agora passam os trilhos imponentes do sistema de plano inclinado, nome pomposo para elevador. Mas meus olhos ainda podem ver claramente o campinho de terra vermelha , batida... cheio de crianças, dentre elas,uma garotinha franzina, de cabelos cheios e fartos sonhos, feliz por estar em seu tempo, no seu lugar.