O Grito

Na barraca do Sr. Manoel os caquis estavam tão bonitos que pareciam vivos. Tão vermelhinhos que mais pareciam tomates, redondinho, simetricamente redondos, como se fossem pintados por um pintor clássico. Olhei para eles e minha boca encheu-se d’água como se fosse uma represa. E tenho a nítida impressão que eles me sorriam e às vezes me convidavam para saboreá-los. Não resisti e comprei-os, não todos é claro, somente dois. Sr. Manoel colocou-os numa bolsinha de plástico transparente e eu me fui feliz da vida com a aquisição.

Esperei o sinal fechar e atravessei a rua quando escutei um ruído plaft e logo após outro ploft, voltei-me e para meu desespero ví os meus amados caquis esborrachados no asfalto. Estavam numa poça de líquido vermelho como sangue, sem que eu fizesse sequer um movimento,o sinal abriu e os carros passaram por cima dos meus caquis. Foram tantos ploft e placs que parecia uma música do Raul Seixas, cujo nome não me lembro. Senti um aperto tão grande no meu peito e não pude conter a cascata de lágrimas que caíram dos meus olhos. Quis gritar, correr, não estar ali, porém fiquei ali petrificado olhando os meus caquis mortos,esmagados pelos carros. E então gritei, um grito único, rasgado e sofrido.