Love Train

Douglas voltou da rua com um sorriso largo no rosto e a edição dominical do "The New York Times" debaixo do braço. Sentou-se à mesa da cozinha do apartamento no Village que dividia com os amigos Carl e Danny, os quais estavam tomando café, e abriu o jornal.

- Agora é oficial - anunciou exultante.

- A guerra acabou mesmo? - Indagou Danny.

- Ainda vai continuar um tempo, mas Nixon vai trazer de volta o restante do nosso pessoal. Vamos sair do maldito Vietnã! - Replicou Douglas.

- Pensei que esse dia nunca chegaria - admitiu Carl com alívio. - Doze anos de guerra... e cada vez mais dos nossos indo morrer de graça no meio da selva.

- Alguém precisa ir lutar as guerras dos brancos - ponderou Danny com amargura. - Isso quer dizer nós, é claro.

- Com esse acordo de paz, significa também que acabou o alistamento compulsório - enfatizou Douglas. - Está aqui no jornal: quem nasceu a partir de 1953 não corre mais o risco de ser recrutado. E quem nasceu antes e não foi convocado, também não irá mais!

Carl e Danny entreolharam-se com alívio.

- Então, estamos a salvo de morrer no Vietnã - declarou Carl.

- Já basta a polícia de Nova Iorque para termos com que nos preocupar - retrucou Danny, erguendo-se e ligando o rádio de pilhas sobre o armário da cozinha.

O som de "Love Train" dos O'Jays encheu de esperança o aposento.

- [16-07-2020]