MEDITAÇÃO

Sinto-me agitado, meus pensamentos giram como um carrossel sem freio, minha respiração está ofegante, me falta ar, me falta equilíbrio, minha mente oscila entre passado e futuro, me transportando à lugares de dor, angústia, medo e tristeza. Meu ser grita, minha consciência está inconsciente, estou ao ponto de explodir.

Em busca de um momento de paz e refrigério, encontro um quarto, dentro da minha casa mesmo, onde eu possa ficar em paz por alguns momentos, sozinho e presente. Sento-me em uma cadeira, ajusto minha postura e fecho os olhos. Enquanto os inúmeros pensamentos continuam passando por minha mente, tomo três respirações profundas, completas. Inspiro deixando que o ar ocupe meu abdômen, depois minhas costelas e por último o peito até a região da clavícula. Prendo o ar por alguns segundos e, com consciência, expiro bem devagar, liberando o ar do peito, depois das costelas e, por último, do abdômen.

Após repetir as sequências de inspiração e expiração, sinto meu corpo mais leve, meus pensamentos já não me assustam tanto. Imóvel, viajo na percepção do meu corpo: sinto meus pés, o contato deles com o chão frio, sinto minhas canelas, panturrilhas e joelhos, observo meu abdômen, um pouco fora de forma, o peitoral, a musculatura das costas e a coluna vertebral, tão castigadas pela postura inadequada e pelas tensões do dia a dia, passeio com atenção pelos ombros também tensos, braços, antebraços e mãos. Aos poucos, começo a despertar em mim o exercício da consciência de meu próprio corpo, me abro para o conhecimento deste templo que carrega quem eu sou.

Começo a então a observar os sons do ambiente, sem julgamentos, apenas aceitando aquilo que chega até mim. Ouço o vizinho do apartamento de cima arrastando seus móveis, o cachorro da casa ao lado latindo desesperadamente, ouço outro cachorro, mais distante, latindo para a moto que passa, percebo os sons dos carros aos poucos se aproximando, ao longe, depois passando perto de mim e indo embora. Os sons são sazonais, cada um possui caraterísticas próprias, trazem consigo uma gama de significados delineados por nossa experiência nesta terra. Aqui, presente, ouço a sinfonia do agora, lugar onde a vida acontece, ouço o silêncio existente no mínimo intervalo entre um som e outro, investigo cada acontecimento com ar de curiosidade, nada julgo, apenas observo a emoção que cada som evoca dentro em mim.

Volto-me para a respiração, faço dela minha âncora no presente. Este acontecimento, tão simples e efêmero, mas recheado de tamanha sabedoria e paz, faz a energia vital do ar circular por todo meu corpo, oxigena cada pedacinho de mim, traz luz e ordem à mente tão perdida e tira daqui de dentro tudo aquilo que não presta. Não interfiro, apenas observo o movimento natural que o ato de respirar produz em meu corpo, enquanto expando meu abdômen ao inspirar e o recolho ao expirar.

Mantendo minha atenção totalmente no presente, sentindo as sensações do corpo e ouvindo os sons ao meu redor enquanto foco na minha respiração, percebo que meus pensamentos não mais me atormentam, consigo enxergar com maior clareza o que se passa com eles e com meus sentimentos, percebo que não sou a minha mente. O carrossel que há pouco me tonteava, continua a girar de forma calma e ordenada. Compreendo então que na raiz do meu âmago reside luz, paz, tranquilidade, percebo essa parte de mim que é centelha divina, um pedaço de Deus. Percebo que sou Consciência e, como Consciência, sou capaz de observar a tudo o que acontece dentro de mim, desapegado dos pensamentos e sem identificar-me com eles.

Aos poucos reconecto-me ao corpo, tomo no três respirações profundas, movimento devagar minhas mãos e meus pés. Faço os movimentos que o corpo me pede, aprendo que como parte de mim, o corpo também fala, a seu modo. Abro os olhos devagar, junto as mãos em frente ao peito e agradeço por este momento de compreensão de mim mesmo. Agradeço a oportunidade de permanecer no presente e me observar para então me conhecer em um ato cheio de simplicidade e sabedoria.

Diego Dias
Enviado por Diego Dias em 21/08/2020
Reeditado em 21/08/2020
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