Suplantar do Nvumira

Na década 90 havia um homem, que se chamava Nvumira, vivia numa Ilha chamada Save. Sua Mãe chamava-se Ndaneta, suicidou-se quando o Nvumira tinha 7 meses. Seu Pai chamava-se Kwatamula, vanesceu porque o Nvumira nasceu com 24 dedos. A Mãe não suportou o abandono do seu marido e colgou-se. Nvumira floriu sob tutela da sua Tia materna chamada Nicuthandiza. Nvumira era um homem muito remansado e atilado! Mas subsistia municiado de misantropia em seu peito, seu coração falto de amor dos seus Pais. Não sabia o paradeiro do seu Pai, carregava uma foto na sua algibeira, única foto presenteada pela sua Tia, que servia como anamnese da fisionomia do seu Pai. Nvumira queria com assaz conhecer o seu Pai.

Passaram-se 17 anos. Nvumira não se esfalfava de mirar pelos cantos, com esperanças de ver a fisionomia do Pai, a cada dia subsistia amofinado e sentia-se tão só! Mesmo com o afago e afeição que a tia Nicuthandiza lhe proporcionava; Só a presença do Pai poderia completá-lo. Nvumira tinha tantas perguntas…Num esbelto dia! Resolveu procurar pelo seu Pai, embarcou no barco e pôs-se a velejar nas águas do Oceano Índico.

Velejou e velejou até a uma Ilha chamada Muxu. Chegado lá. Procurou pelo mandachuva daquela Ilha, chamado Ndilequeni. Eis que identificou-se. Nvumira não tardou para indagar: Senhor na qualidade de mandachuva dessa Ilha, alguma vez viu esse rosto? Tendo mostrado a foto sempar que nutria a sua esperança…Ndilequeni bamboleou a cabeça e retrucou: Ah, Nvumira, não sei! Só sei que ele brotou numa Ilha, onde o sol raia e queima no alvorecer!!!

Nvumira entrou no seu barco e continuou a velejar…Até que desembarcou numa Ilha chamada Fikani. Reproduziu cópias da foto do Pai, colou nos locais públicos e escreveu: Procura-se este homem. Um morador abelhudo! Chamado Gukha, não resistiu ao ver as fotos coladas, eis que indagou: Esse Senhor na foto é um parente seu ou incorreu uma transgressão? Nvumira, resmungou: Esse aí é meu Pai, teve coragem de despovoar-se quando eu tinha 7 meses de vida. Na sua fisionomia era perceptível o destilar das lágrimas em seus olhos!!!

Tu és filho do Senhor das Minas de Diamantes e dos Montes Kaphiridzadje e Calowera! Rematou o Gukha. Nvumira não depreendia nada e regateou: Como assim? Olha miúdo teu Pai é dono dessa Ilha, manda em todos…Ele é o mandachuva dessa Ilha, por isso que eu digo que és o Filho do Senhor das opulências!!

Nvumira, não queria saber das opulências do homem que o largou ainda bebé, só queria conhecê-lo e saber o porquê dele ter se despovoado daquela Ilha? Gukha escoltou o Nvumira até ao castelo do Kwatamula. Chegado lá, encontrou seu Pai entre aspas a almoçar. Eis que suplicou ao Nvumira que se achegasse a mesa para manducar. Nvumira renuiu retrucando: Não muito obrigado! Se quisesses me nutrir, então não terias partido para bem longe!!!

Descalçou seus ténis e retirou as luvas das mãos, para o Pai mirar que aquele bebé deformado que ele largou, já floriu…O Pai ficou boquiaberto e tentou seduzir o Nvumira ah, meu amado miúdo, tu floresceste muito e és tão perfeito! Nvumira chorava! E não parava de indagar:

- Como é que podes brotar-me?

- Como é que podes não fazer-me crescer?

- Como é que podes invitar-me a tua mesa, se não sou gente para ti?

- Como é que pudeste largar-me, no instante mais sensível da minha vida?

Diante daquelas questões, o Pai tremelicava e seus olhos destilavam lágrimas incessantemente…Pela primeira vez, viu-se um mandachuva profuso de Minérios ficar alquebrado! Sentiu que tinha sido leviano e que fraquejou em ter largado o seu filho. Obsecrou que o Nvumira o perdoasse e que aceitasse todo império, como um gesto de ressarcimento pelas nequices perpetradas!!!

Nvumira aceitou o perdão obsecrado, mas não aceitou ficar com império e disse: Nenhum diamante seria capaz de ressarcir a decesso da Mãe! Mamãe autoagradiu-se por tua causa. Perdão! Mas jamais aceitarei teu Celeiro profuso de Minérios. Só queria te conhecer, exprimir e desmuniciar esse desalento em meu peito! Sei que brotei de ti, sim! Mas não cuidou de mim. Não me considerou como o teu Filho quando bebé. É hoje ou amanhã que o serei? Saiba que jamais serei teu Filho…

Nvumira embarcou no seu barco com o seu leme apontado para sua Ilha e velejou... Resignou-se a subsistir o resto dos seus dias sem o Pai inafável! Embora todas opulências da Ilha do Pai seriam dele, mas não ficou aliciado!!!

Pais amoráveis! Não largam seus Filhos, não relevam as exterioridades…O elogiável é que os Pais aceitem os seus Filhos e cuidem deles, se não correm o transe de não ganhar a graciosidade dos Filhos e subsistirem angustiados como o Kwatamula que largou seu Filho, quando este era bebé, porque era deformado!!!

Mafala Ya Mbumba
Enviado por Mafala Ya Mbumba em 18/09/2020
Código do texto: T7066313
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