ESTÓRIAS, MILHO COM FEIJÃO E LEITE MUNGIDO

ESTÓRIAS, MILHO COM FEIJÃO E LEITE MUNGIDO

Wilton Porto

Conto

Na área do alpendre, ouvíamos estórias várias de Trancoso.

Nossa prima Denir, que ainda não havia batido as asas, contava-as, de uma forma que custávamos a domir: “será que seríamos visitados por alguns daqueles personagens?!”

Nossas redes ficavam todas numa mesma sala, perto uma das outras. Qualquer avanço

De Lobisomens; Cucas; Sacis, já estava combinado: gritos!

Nossa contadora de estórias alertava-nos:-Hoje, comemos o afamado milho com feijão da mamãe, que em nenhum outro lugar do mundo tem igual e regado a pé de porco. Não podemos dormir cedo.

Era costume se deitar no horário das galinhas. Sítio afastado de São João do Piauí, área do Jacaré, onde a sobrevivência se dava através da agricultura, criação de animais de pequeno e médio e grande porte. Desde a galinha até a vaca leiteira. Em relação a esta última, acordávamos bem cedinho, com o intuito de tomarmos o leite mungido – que saía, naquela hora, do peito da vaca. Reconciliar as pálpebras entre 19 e 20 horas, era tradição.

Pregar o olho após aquelas estórias, era visualizar a cuca com rabo nos espreitando. O negrito de uma só perna de trás da porta, no escuro, pronto para pular. Eu costumava deixar uma travanca próximo da minha rede.

Numa daquelas noites em que o Coração estava mais sensível, que o balançar diastólico e sistólico do Órgão dos sentimentos parecia um tanto descontrolado, Antônio começou a gritar:-Pai, papai… acode! Corre!!!… todo o mundo correu para a sala, tropeçando em rede, e eu já com o porrete nas mãos.

Antônio suava que nem a panela do prato predileto, feito por tia Pimpília.

Tremendo ainda, o garoto disse “que estava sendo perseguido por um bicho de chifres e cabeludo, rabo, cachimbo na boca e fumaça escorrendo e vermelho que nem brasa em época de fogueira de São João. Na hora que ele tropeçou e o lobisomem ia atirarar-se sobre ele, eu o acertei com o meu porrete. Foi a hora que o alarme de todos acordou o meu primo.

Eu – menino da cidade -, lembrando-me daquelas celebrações e do catecismo, propus uma oração compartilhada.

Demo-nos as mãos e eu fui convocado a lembrar de alguma oração aprendida no catecismo

– Pai de eterna bondade, que mora no mais elevado dos Céus, creador de todas as coisas: nós Te louvamos e bendizemos!

Acalme os nossos Corações. Leve-nos de encontro ao dulcíssimo Peito. Nem precisa dizer nada, amado Deus. O calor de Sua presença já nos é consolo. No entanto, Se quiser, diga-nos que o Filho Jesus e nosso Anjo Protetor estão constamente conosco: nada devemos temer. Nossa mente é uma um vulcão em movimento. Se não a usarmos com mensagens sublimes, a tendência é esse vulcão entrar em erupção. Envolve-nos meu bom Deus! Abrace-nos e energiza-nos com o poder das Suas Mãos. PAI-NOSSO que estás nos Céus…

Todos se acalmaram.

Denir, brincou:

– Já que estamos todos acordados! Eu poderia contar aquela…

– Não!!!!

Todos gritamos uníssonos!

– Gente! Como o primo Wilton disse na oração, o que gera o medo, é inculcarmos em nossa mente coisas negativas. É ouvirmos as estórias, achando que é real. Não é estória?! É com “é” e não com “h”, demonstrando que não existe de verdade. Satanás existe. Contudo, ele só tem força diante de quem não ora, não confia em Cristo, no nosso Anjo da Guarda.

Também, quero lembrá-los que, Satanás se aproveita dos homens para praticar as maldades – dessas muitas existentes no mundo. Astuto, enganador, mentiroso, ele usa dos desejos materialista dos homens e faz o rombo na vida dos deprevenidos, dos que não comungam do Projeto Deus. Ele usa do homem simples, como nós, com mais fé, para levar luz. O medo é a ausência de Deus em nossa vida.

Rezem para o Anjo da Guarda todos os dia: ao acordar e ao deitar-se. Faça um Pai-Nosso e uma Ave-Maria e um Glória ao Pai. Quem puder e souber, faça uma oração espontânea. Orar, é conversar com Deus. Como Antonio conversa com o Wilton. Só que com respeito! Aprendamos a ouvir a Voz do Espírito Santo…

Que tal, em vez dessas estórias macabras, daqui para frente, catecismo, histórias(com “h”) bíblicas?!, arrematou Denir.

Tia Pompília levantou as mãos para os Céus e agradeceu, após perceber a euforia de todos.