AS MÃOS DE PEDRO

Por: Lúcio Alves de Barros

Esta história não sei se é real. Mas meu amigo, Paulo, teimoso como ele só, disse que é. Você leitor, acredite se quiser... O caso aconteceu em uma cidade no interior de Minas e já tem alguns anos.

Pedro era um garoto forte e robusto, apesar de ter apenas quatro anos aparentava ter mais. De olhos claros, cabelos lisos e escuros, era considerado um garoto bonito e feliz.

Naquele dia, já era tarde, o sol já estava se colocando e colorindo de laranja escuro o céu que antes era claro e límpido. Pedro estava brincando na garagem, próximo ao automóvel do pai. Naquele dia, havia jogado bolinhas, brincado de papagaio, andado de carrinho de rolimã e desenhado em alguns papéis.

Já tarde, ouviu o seu pai chegar. Sempre estremecia com sua chegada. Mas, naquela mistura de nervosismo e segurança, ficava com penando na possibilidade do seu abraço forte e do beijo quente na testa. O pai sempre traz um conforto social aos filhos. No entanto, ao vê-lo Pedro não foi bem recebido. Aos berros o pai lhe chamava. Sem entender, pensou que o problema não era com ele. Infelizmente estava errado. Tomando as mãos do filho, o pai , sem segurar a ira do fim de um dia de trabalho, passou a mão em algo que estava perto e bateu com toda força nas pequeninas mãos de Pedro.

Doía muito e logo suas lágrimas começaram a cair no chão. Pareciam brilhantes, mas os seus berros não deixaram de criar um mal-estar nos vizinhos. Nada podia ser feito, os vizinhos sempre têm a concepção de que em conflitos familiares não se deve meter a colher. Péssimo comportamento para Pedro que sofria muito, principalmente, ao ver suas mão incharem. Aos poucos, sentiu elas adormecerem. Logo após, não mais sentiu os dedos e chorou mais quando percebeu que suas os dedos estavam ensangüentados.

Acordado de seu sono de pavor o pai de Pedro caiu em si. Apavorado tomou o filho nas mãos e saiu às pressas para o hospital mais próximo. Após internar o filho, o Pai de Pedro, percebendo pingos de sangue em seu uniforme de trabalho buscou nas lembranças o acontecimento que colocou início àquela tragédia.

Pedro havia arranhado o automóvel de seu pai com pregos. Havia escrito o seu nome e de sua mãe. Estava feliz com aquele trabalho. Não percebera que havia feito uma "arte" e que a atitude de seu protetor seria aquela.

Perdido em seus pensamentos, o Pai de Pedro logo foi acordado por um dos médicos que lhe chamou com o objetivo de explicar a situação. As pancadas foram fortes demais. Os dedos de Pedro haviam sido destruídos e suas mãos deveriam ser rapidamente amputadas.

Apavorado com a notícia, o pai de Pedro não suportou. Caiu em choro e desespero. Após três dias foi levado à companhia do filho. A reação de Pedro, colocando as mãos à mostra foi simples, tal como é simples toda criança:

- Ó Pai, nunca mais vou arranhar o seu carro...

Conta-se que o Pai não suportou o peso da consciência e preferiu a morte após alguns anos.