Consegui!

07/12/2020

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O mar estava forte, bravo e carrancudo pela chuva incessante que caia há mais de uma semana, quando cheguei a ele para nadar. Desafiadora era a visão, mas bela na sua violência e agressividade. Imponente é o oceano, inquestionável!

Ondas estrondosas quebravam, espumando suas cristas em um branco alvo. Ninguém na praia, somente alguns surfistas aproveitando-as tentado dominá-las. Eu os acompanharia: seríamos nós a aproveitar essa beleza indomável que nos presenteava.

Chovia fino e constante, mas não tirava o ímpeto e o desafio de nadar sobre suas aguas nervosas. Entrei nele, sentindo sua força e violência ao quebrar as ondas no meu corpo, que quanto mais me aprofundava, maiores ficavam e ameaçadoramente me engoliam; mergulhava por baixo delas, ouvindo seu som surdo e forte como um trovão, batendo nas minhas costas com potencia fenomenal.

Enfrentei-as com minhas forças, incomparavelmente menores frente às dele. Foi difícil, pois se formavam muito próximas, não permitindo que pudesse respirar e me recuperar ao emergir dos inúmeros mergulhos que fiz para superá-las. Engolia muita agua, e ao abrir os olhos embaixo delas, via o forte torvelinho que fazia a sua força bruta, levando-me a recuar o que tinha conquistado. Exaustivo vencê-las; uma batalha descomunal.

Não desanimei, pois nessas condições, a paciência e a inteligência é o que imperam, como a determinação, pois não há como enfrenta-lo de frente. Temos que ser astutos.

Depois de algum tempo, não sei quanto, consegui superar a faixa onde ele mostrava toda a sua pujança. Estava agora atrás do espocar intermitente delas, fazendo-me subir e descer na água.

Acalmei-me deitando o olhar para o céu todo brumoso, com uma garoa fraca batendo no meu rosto. Uma brisa leve era sentida, o que ajudava, pois fosse forte, não conseguiria chegar até ali.

Descansei por um tempo com o rosto molhado e fresco, sem frio. A agua estava cálida; não percebera a sua temperatura durante a luta para conquistar a posição em que me encontrava. Vencera uma etapa, talvez a mais difícil.

Decidi iniciar o meu nado, indo devagar em direção longitudinal às ondas, acompanhando-as, vendo distante, suas cabeleiras brancas esvoaçantes a cada quebrar. Meus óculos embaçavam nada vendo, e intuitivamente, me direcionei para onde achava que deveria ir. Mas, o bater sequente delas no costado do meu corpo, empurrava-me para a costa e para a rebentação, novamente!

Então, uma enorme e forte onda, que não percebi, desabou em cima de mim, fincando-me no fundo com uma força tremenda, me arrastando quase até a areia na praia. O susto foi enorme, como quase me afoguei. Mas, não abri mão do meu objetivo:

- Mar não desistirei! É muito mais forte, mas a minha vontade é maior que a força das suas ondas. Vou em frente! – disse-lhe voltando a nadar para passar a arrebentação novamente, recomeçando a contenda que considerava vencida.

Nova batalha, que demorou menos tempo, pois parece que me dera nova chance de vencê-lo, preocupando-me, pois o mar é traiçoeiro.

Agora, vencidas novamente suas ondas e mais distante do seu quebrar pesado e incessante, embiquei para o meu destino, reiniciando o nadar:

-Não importa quantas vezes me devolverá para a areia, tantas vezes voltarei para o seu seio, seguindo o meu rumo, obstinado! – disse-lhe com voz cansada, mas determinado.

Nadei na direção que definira. O venceria a qualquer custo, quantas fossem as batalhas necessárias para tanto.

Consegui!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 08/12/2020
Reeditado em 08/12/2020
Código do texto: T7130809
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