Um fato insólito!

10/12/2020

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Eis como aconteceu:

A família da mãe dos meus filhos construíra uma casa em condomínio fechado, em praia reclusa no litoral norte do estado de São Paulo. Eram os anos oitenta. Íamos com certa frequência lá passar fins de semana, feriados e férias de verão. O local era tranquilo, com praia de enseada curta, poucas ondas, ótima para as crianças. Meus filhos, meninos com quatro e cinco anos naquele tempo, adoravam. Eu também, pois sempre fui fã de praia. Hoje, moro em uma.

Passávamos na ida à praia em frente a uma casa de esquina, antiga, talvez umas das primeiras construídas, e encontrávamos um casal mais velho, dono do imóvel, de origem espanhola pelo sotaque e maneira de falar. Ele, de altura mediana, nos seus setenta e tantos anos, óculos de fundo de garrafa, cabelos negros grisalhos penteados para trás com “Gumex”, lustroso, sem camisa e sempre de “shorts”- (o mesmo?) antiquado, curto, com forro como cueca, e um pouco justo. Simpático e falante puxava conversa com os meus filhos, quando estava no seu jardim em frente da casa. Era muito raro ele ir à praia. Ela, também baixa, um pouco mais pesada, ou gorda, com os cabelos todo branco e bem curto, menos falante que o marido, mas simpática também.

Tinham duas filhas, sendo uma delas de nome Concheta, típico espanhol, casada com meu colega de ginásio, reencontrando-o lá depois de muitos anos. Uma ótima coincidência. Tinham um filho da mesma faixa etária que a dos meus, e sempre brincavam juntos na praia.

Às vezes, vinham os avós espanhóis à nossa casa para conversarmos, após o almoço para um café, pois o seu neto muitas vezes almoçava conosco, como nossos filhos na casa deles, em confraternização de vizinhos.

Em um desses cafés, estava eu, minha mulher e minha mãe, que passava uns dias conosco, conversando com o avô na sala da nossa casa; a avó ficou em casa. Os pais do neto também não estavam, deixaram o filho ficar a semana com os avós. Os três meninos brincavam entretidos na sala. O espanhol, sentado em poltrona com seu short costumeiro, sem camisa, de pernas cruzadas, contava-nos um caso interessante, animado.

Nós três sentados em sofá em frente a ele, acompanhávamos atentamente o seu discurso, quando descruza as pernas e as deixa abertas, aparecendo os seus testículos saindo pelo forro do short. Ele não percebera; nós sim!

Entreolhamo-nos. Continuava a contar efusivamente a historia; e o que fazer?

Meu filho mais velho viu a situação. Olhava-nos questionando de como agir nessa situação insólita.

Nós, espectadores, desviávamos o nosso olhar, mas era impossível, pois estavam eles, os bagos, totalmente para fora do short, tornando-se difícil acompanhar o discorrer dele. Comecei a rir dissimuladamente, quando o meu filho que percebera o fato veio até mim e disse baixinho:

-Pai, ele tá com o saco todo pra fora. Que engraçado! – sorrindo fraco.

-Eu sei filho, vamos ver como resolvemos isso. Não fala nada para o seu irmão e para o Felipe (o neto). Ele voltou aos outro dois que brincavam no chão, que não perceberam o que acontecia ainda.

Minha mãe levantou-se sem graça, dizendo a ele que iria descansar um pouco. Parou com o contar do caso, levantou-se cavalheirescamente em atenção a ela, e o pior, agora os testículos ficaram totalmente pendurados para fora!

-Vô, seu saco tá saindo da bermuda! – grita Felipe, seu neto.

Vira-se de costas para nós e recoloca-os de volta para dentro do short. Volta-se rindo, e recomposto diz:

- Viejo es así , todo cae! – riu sem graça também, mas não perdeu a pose. Nós acompanhamos o seu riso. Minha mãe seguiu para o seu quarto.

Sentou-se novamente, retomou a conversa, lhe demos nova xicara de café e seguimos o nosso papo, agora ele de pernas fechadas. Nós, aliviados!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 11/12/2020
Reeditado em 12/12/2020
Código do texto: T7133188
Classificação de conteúdo: seguro
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