Tudo bem com você?

— Tudo bem com você?

— Dependendo do que significa bem para você?

— Calma. Eu só fiz uma pergunta.

— O que é estar bem?

— Saúde é um parâmetro aceitável.

— Que tipo de saúde?

— Como assim?

— Oras, são vários.

— Quer dizer que já está assim. A que ponto nós chegamos!

— Pois é, posso estar bem fisicamente e muito mal financeiramente, ou vice-versa. Arriscaria até dizer que há cânceres financeiros, que podem se alastrar de várias formas.

— Imagino.

— Pois então, e você está bem?

— Depois disso tudo, fico até na dúvida se estou bem ou não. Acho que minha dívida no banco já está entrando em metástase, todavia meu casamento foi salvo, sabe, saiu do coma, tive até uma EQD.

— EQD?

— Sim, experiência quase divórcio, afinal tem experiência quase morte.

— Agora você foi profundo.

— Quem mandou dar corda. Agora repito eu a pergunta: você está bem?

— De família sim, de saúde também, financeira até que vai, mas...

— Mas o quê?

— A espiritualidade sabe?

— Sei o quê?

— Você sabe, mesmo estando bem de corpo, de família e com a situação financeira numa situação quase segura, é preciso estar bem com o espírito.

— Tem faltado a igreja?

— Nem é uma questão de ir ou não. Enfim, ou se está bem ou não nesse quesito, não há meio termo.

— E o que falta pra ficar pleno?

— Falta eu me preocupar menos.

— Mas é natural nos preocuparmos, não dá pra deixar a Deus dará.

— Pelo contrário, temos que deixar a Deus dará sim, na verdade, é Nele confiar.

— Bom, é melhor não entrar no mérito da questão religiosa.

— Como queira.

— Já deu minha hora, abraço e tudo de bom!

— Tudo de bom em quê?

— Ai meu Deus do céu, mais essa!

— Sinto muito, poderia ser mais específico no seu desejar.

— Sejamos práticos, desejo de tudo de bom de forma geral, está feito assim? Nesse mundo apressado de hoje não dá pra ficar esmiuçando tudo.

— Nessa pressa toda e ansiedade acabarás ansiando pela própria morte. Tem certeza que está tudo bem com você?

— Não, e continuará assim se continuar me amolando.

— Ah eu sabia. Fique tranqüilo, não é só você que mantém as aparências ou prefere não contar sua situação. Compreendo, não devemos contar para estranhos ou para aqueles que simplesmente passam por nós. Mas também você nunca sabe quando precisará de ajuda e muito menos que se alguém ouvir o que realmente se passa poderá ajudá-lo. Sem mais palavras, pois o tempo curto, não? Mas curto para quê?

29/10/07

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 30/10/2007
Código do texto: T715598
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