O SEGREDO DA FELICIDADE

Claudinho Chandelli

José Sérgio Neto, o Zequinha, morava num vilarejo com seu avô de mais de oitenta anos, o Sr. José Sérgio, conhecido como seu Zeca.

Praticamente todos os moradores do vilarejo e de lugares vizinhos admiravam seu Zeca pela sua sabedoria, longevidade e alegria. Ele estava sempre de bom humor, feliz, e sempre tinha bons conselhos para dar a quem procurava sua ajuda.

Era comum, à boca da noite, vários moradores se reunirem no terreiro da casa de seu Zeca, em volta de uma fogueira, para ouvirem suas experiências e conselhos.

Ele sempre encerrava essas reuniões com duas frases: “A vida não é cartão de crédito; esse é o segredo da felicidade”.

Quando completou oito anos, Zequinha, curioso, como todo garoto de sua idade, perguntou ao seu Zeca:

– Vô, por que o Sr. sempre diz que a vida não é cartão de crédito; e que esse é o segredo da felicidade?

– Quantos anos você tem, Zequinha?

– 8

– Quando você completar 15 anos, eu te conto porque a vida não é cartão de crédito; e porque esse é o segredo da felicidade.

Daí por diante, todas as vezes que fazia aniversário, Zé Neto lembrava o vô quantos anos faltavam pra ele completar 15.

Até que o grande dia chegou. Na noite que antecedeu seu aniversário de 15 anos, Zé Neto praticamente não dormiu – e quase não deixou seu avô dormir também, tão ansioso estava para descobrir por que a vida não é cartão de crédito e, principalmente, por que esse é, segundo o seu avô, o segredo da felicidade.

Na hora do café, logo que sentaram à mesa, foi a primeira coisa que Zé Neto lembrou:

– Vô, hoje é meu aniversário.

– Parabéns, meu neto!

– Não, vô, você não tá entendendo: hoje, eu completo 15 anos.

– Eu sei. Você quer saber por que a vida não é cartão de crédito e por que esse é o segredo da felicidade, né isso?!

– Exatamente!

– Então, vamos lá!

– É que o cartão de crédito a gente parcela; a vida não.

– Continuou não entendendo.

– Vou te explicar. Tem gente que pensa que pode viver a vida dividida em parcelas, como se faz com as dívidas do cartão de crédito; mas, como já te disse, não dá.

É assim. Pra gente ser feliz são necessárias pelo menos três coisas: tempo, disposição e recursos (dinheiro).

O problema é que nunca teremos as três simultaneamente.

Veja bem! Quando se tem a sua idade, por exemplo, temos todo o tempo e disposição do mundo (somos jovens, cheios de energia; não trabalhamos, não temos responsabilidade de família nem outras responsabilidades sérias a assumir); porém não temos o recurso (dinheiro).

Tornamo-nos adultos; assumimos responsabilidades e temos que trabalhar para cumprirmos com nossas obrigações. Assim, adquirimos recursos e continuamos tendo disposição; mas nos falta o tempo; afinal, agora, temos que trabalhar.

Chegamos à velhice; aposentamo-nos: continuamos a ter recurso e, novamente, todo o tempo do mundo; mas, aí, não temos mais disposição.

Por isso, meu neto, é que digo que a vida não é cartão de crédito; não dá pra vivermos parceladamente – apenas uma fase de cada vez. Temos que viver tudo e ao mesmo tempo.

Esse é o segredo da felicidade.