Fama e balas

Meu nome é Ricardo. Sou tetraplégico, e ainda por cima, pobre. Minha vida é uma tristeza sem fim. Vivo preso a uma cadeira ou a uma cama, sempre tendo que se alimentar e respirar através de tubos ligados à minha garganta. Eu não era assim; já estive melhor.

Tudo começou há 5 anos. Eu era pobre, mas saudável. Minha cidade fazia um reality show todo ano, chamado "Big Citizen Alegria" (Alegria é o nome da cidade); logo, fiquei entusiasmado com a oportunidade de fama e dinheiro fáceis. Mas, eu tinha que enviar um vídeo bastante "diferente" à emissora responsável. O que eu fiz? Gravei-me, nu, pichando o muro da prefeitura. Eu nunca pichei nada! Nem cadeira de escola... E ainda nu! Resultado: fui aprovado. Minha sorte foi que a emissora pagou a fiança.

Entrei no programa. Lá dentro eu soube que quem escolhe o vencedor não é o público, mas a emissora, que dá o prêmio a quem lhe dá mais ibope. Só quem está lá dentro é quem sabe. A partir de então fiz o que jamais havia feito na vida, com excessão do vídeo que gravei: expus meu corpo gratuitamente. Andava nu pela casa do programa, mantinha relações sexuais com outras participantes, e o ibope, nesses momentos, subia o máximo que podia. Afinal de contas, a gigantesca maioria dos telespectadores prefere ver indecências pela TV do que programas educativos; é a triste verdade. O programa então chegou ao final, e eu ganhei. Eu era rico agora, tinha 1 milhão de reais só para mim.

Um mês depois, passeando pela cidade com meu Audi, fui assaltado por um rapaz. Entreguei meu carro, minha carteira, meu relógio, meu celular e todo o ouro que tinha pelo corpo. Ao sair, o assaltante me disse que eu nunca deveria ter ganho aquele programa. Depois, me deu três tiros de revólver, duas das quais quebraram minha espinha em dois lugares, e outra furou meu pulmão direito. Caí, para nunca mais levantar-me sozinho.

Gastei todo o meu dinheiro com tratamentos, mas nada resolveu. Perdi todo o dinheiro e a fama. Agora só me resta o alívio da morte.

Eu, um novo anônimo da vida, não deveria ter desejado a fama...

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Obs.: Essa história é fictícia, mas baseado em fatos reais de outras pessoas...

Marxin Leonov
Enviado por Marxin Leonov em 03/11/2007
Código do texto: T721637
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