A chuva

A chuva enfim veio e sossegou o coração da mulher, compreendeu o homem, banhou o pão-nosso de cada dia nos dai hoje e por fim refrescou as gotículas de suor da fronte do casal. Assim eram conectados: aprenderam a gostar do que nasceram aprendendo. A mulher ao nascer aprendeu a sentar-se de pernas cruzadas, ao passar-se cinquenta anos de tal modo estava a ver a chuva formar lama na terra até então seca do lado de fora da varanda. O homem, por sua vez, ao nascer aprendeu a vigiar seus pertences – com exceção das suas próprias emoções – sua terra, sua plantação, seu dinheiro, sua mulher e de tal maneira estava: em pé à porta da varanda fitando despretensiosamente a mulher sentada a uma cadeira de balanço ao lado, revezando o olhar para com o horizonte inalcançável mantendo a expressão inalterável. Cansada pelo dia exaustivo cuidando, limpando e arrumando a casa e por outras coisas mais que não sabia, a mulher permanecia simultaneamente desperta e acordada, pois sua presença com certeza estava ali juntamente com a tristeza de um não sei o que, e os nãoseioques não permitiam que a mulher fechasse os olhos. Cansado pelo dia exaustivo cuidando, limpando e arrumando a roça e por outras coisas mais que não queria pensar, o homem permanecia simultaneamente alerta e calmo, pois sua presença com certeza não estava ali juntamente com sua vontade de mudança, cujas ausências lhe permitiam sentir certo conforto ao medo. A mulher em pensamento se recordava do momento em que conheceu este homem ao seu lado: – Prego! – ele me dizia, mas na época não entendi então sorri com os olhos para a fé aos meus pés, quase que subiu para a cabeça, mas graças a deus eu também choro pelos olhos, eu sei dos dois lados dos dois olhos, pensou. É que o homem vivia em uma vila italiana, na época o rapaz estava lhe dizendo “de nada” após ter devolvido seu chapéu que havia voado com o vento. O homem em pensamento se recordava do momento em que conheceu esta mulher ao seu lado: – O que é isso? – ela dizia, mas na época não pensei então acenei com as mãos para o fogo aos meus pés, quase que subiu para a cabeça, mas graças a deus eu também trabalho com as mãos, eu sei dos dois lados das duas mãos, pensou. É que a mulher vivia em uma pensão somente para mulheres, na época a moça estava lhe dizendo “obrigada” em resposta a devolução do chapéu que havia voado com o vento. Ouviram um barulho nos fundos da casa, provavelmente algo na pequena lavanderia havia caído, a mulher foi olhar e em voz alta falou – Foi o vento! – ao ouvir tais palavras, o homem com a postura embrulhada foi até lá e balbuciou – Você também acha? A chuva enfim cessou.