Embarcou na estação de Jundiapeba em Braz Cubas - SP. Como as portas estavam fechadas não teve outro jeito senão a janela. Era pequenina então, não teve nenhum problema. 
Os passageiros ficaram assustados e a chamaram de “perdida”. 
Olhamos para ela e parecia-nos arrependida de sua aventura ou, penso eu, entrou no vagão sem saber que se tratava de um trem. 
Andava de um lado para outro e todos a observava, pois era raridade entre nós.
 Alguns colocavam os pés na frente para ver se a coitada caia ou ficava sem direção, mas ela se desviava deles e continuava andando de lá para cá e de cá para lá. 
Não era louca, mas continuava seu desfile e de vez em quando levantava a cabeça na tentativa de olhar o reflexo da luz que entrava pela janela por onde duas vezes tentou saída e o medo fê-la desistir de sua idéia. Continuava vigiada pelos olhos atentos dos passageiros que aguardavam para ver que fim daria sua aventura quando as portas se abriram e a “doida” não conseguiu sair. Muita gente apressada e o vagão ficou lotado de gente que vinha de todas as direções e a encurralaram-na. O trem partiu ao destino final: Guaianazes e muitos fariam baldeação, pois desejavam chegar a Estação da Luz em São Paulo capital. Não tendo outra alternativa foi buscando espaço por entre as gigantes pernas e chegou até nós. Tony ficou olhando-a com cuidado tentando protegê-la. Ele queria ajudá-la a encontrar direção. 
As portas se abriram novamente e desta vez a "doida" usou-se de esperteza... 
A pomba levantou vôo e partiu sem dizer adeus. 

Escrita em 28/10/2007 às 15h05 no Hospital do Servidor Público enquanto fazia companhia ao pai que estava doente.