Um dia na enfermaria

UMO DIA NA ENFERMARIA

Florisvaldo foi internado no dia 24 de janeiro 2004, no mesmo dia da criação a rede social Orkut (Site de relacionamentos do Google), seria uma sensação e desapareceria anos depois.

Ana o recebeu na enfermaria, seja este narrador bem honesto que Florisvaldo chegou muito bem, conversava como homem normal da mente e foi trazido para emergência por um desmaio, aposentado por doença, aliás ele tinha certeza, pegou “aquela doença” do turista Alemão, foi brincar de coisas que não devia. Nasceu no Amazonas, pobre bateu carteira e acabou preso surrado na prisão, ficou livre e foi estudar letras em Volta Redonda, apaixonou-se por um guarda de trânsito, um vigarista que o deixou liso, tomou os seus bens, submeteu a cárcere privado, endemoniado, foi até a esquina que o guarda trabalhava, olhou nos olhos, depois deu-lhe umas pauladas, foi preso no mesmo dia, como o herói do Legião Urbana voltou pro inferno.

Tomou juízo em meados 85, começou e parou o tratamento umas vinte vezes, tudo porque não conseguia largar a maconha, cachaça e homem bonito.

Entrou na enfermaria as dezoito e quinze, tinha vindo da sala de emergência e já não reconhecia mais aquele lugar como um hospital e sim como um hotel de luxo, dias depois quando contaram a ele, já depauperado e estragado pela doença , em vias de uma morte atormentada, o que aconteceu deu um sorriso largo e nos seus pensamentos mais íntimos entendeu que as viagens na loucura são mais luxuosas que as viagens no mundo da droga.

-Quem te trouxe pra cá Florisvaldo? - perguntou um dos médicos quando fazia a história clínica.

-O caminhão do lixo – ele estava se referindo a ambulância do SAMU, que tinha luzes brilhantes iguais ao caminhão do lixo que ele via sempre passar em frente ao seu AP em Volta Redonda, enquanto estava entregue aos braços do Alemão.

O narrador tem que voltar a enfatizar que Florisvaldo não via mais o hospital como hospital, mas sim como um hotel de luxo e o médico assistente, como o gerente. As enfermeiras eram serventes, arrumadeiras, camareiras, chefes, etc, na sua cabeça enlouquecida deveriam fazer todas as suas vontades.

Um delírio de luxo, mas um delírio, só esqueci de explicar que Florisvaldo era um moreno forte de mais de um metro e noventa, braços de artista de cinema e peitoral de mister universo, poderia passar por um pugilista peso pesado fácil, fácil, ou um lutador de artes marciais, zangado era um problema para cinco homens segurar, dificuldade varonil, ainda mais o pessoal fora de forma que trabalha em hospital.

Quando a mente de Florisvaldo fugiu do juízo, ele se entrou em surto, entrou em ação as chefias, cumprindo o seu dever, e sem a intenção de magoar, a primeira a se comprometer foi a enfermeira Ana, a pedido da enfermeira chefe Pascalina, foi passar um sabão no Florisvaldo, pois estava um disse me disse dos técnicos que só Jesus.

O bicho pegou:

-Olha aqui seu Florisvaldo, o senhor tem que se ajudar e nos ajudar, os técnicos não estão conseguindo fazer seus sinais vitais.

-Sinais de quem? Chama o gerente pra mim agora, um camareiro desses passou a mão na minha bunda.

A enfermeira se virou e gritou:

-Doutor Newton, temos que dar um sossega-leão no seu Florisvaldo pra ontem, ele está agressivo.

Isso doeu, Florisvaldo escutou e entendeu bem, levantou de uma só vez e falou aos berros:

-Olha aqui sua loura oxigenada de uma figa, vou partir sua cara.

Ana que era moça religiosa, que tinha o apelido de branquinha, ficou transparente, gritou, quem correu pra socorrer foi o Pedro, técnico de enfermagem metido a herói, ele foi pra frente do Florisvaldo e tentou segurou o gigante pelo braço, quem estava vendo ali teve dó, foi um pescoção só, Florisvaldo girou Pedro pelo pescoço e deu um pião, o moço de um metro e cinquenta e nove rodou umas cinco vezes e depois bateu a testa na cama hospitalar, o sangue espirrou longe, nesse ponto já gritaram os seguranças, dois bons samaritanos tentavam salvar Pedro da destruição completa, cada um segurando em um braço do gigante.

Duas senhoras mais velhas, trabalhadoras da saúde, uma que tinha vindo só fazer uma oração tentavam segurar as pernas de Florisvaldo.

Enquanto isso Florisvaldo gritava pra chamar o gerente, só se ouvia “chama o gerente desta merda” – que neste caso, era nosso querido médico assistente que na fantasia de luxo de Florisvaldo era o gerente – as enfermeiras gritavam:

-Cadê o médico?

Florisvaldo gritava:

-Chamem o gerente.

Nessa confusão estavam todos misturados, embolados como um moinho de gente em perpétuo giratório, o médico, claro, havia sumido, apareceu um outro médico, um bom samaritano, notou logo um problema mais urgente: Florisvaldo estava sentado na cabeça da enfermeira Pascalina, sabiam que Pascalina tinha treinamento militar, o médico achou melhor não se meter, ela era forte e tentava segurar as pernas de Florisvaldo, já os dois seguranças estavam praticamente sem calças, gritavam com tenores:

-O homem é forte.

A hora da vitória do grupo opoente foi quando Pascalina conseguiu desvencilhar a sua cabeça do bumbum do Florisvaldo e injetou um sossega-leão, Florisvaldo acalmou, mas antes ele defecou cinco dias de fezes retidas, o segurança mas fraco, que estava com a mão em um lugar suspeito , derramou lágrimas na hora, só Deus sabia que ele era um novado em tudo aquilo, fez vômitos, Pascalina levantou heroicamente, arrumou o cabelo e disse um forte e firme: "comigo é assim", ela estava bem zangada, ia fazer uma queixa de todo mundo.

Não é que o médico sumido reapareceu dizendo:

-O que aconteceu aqui?

Ninguém respondeu, alguns estavam com mais raiva daquele médico que de Florisvaldo, até que entre dentes alguém falou:

-Florisvaldo dormiu.

Debandada geral, uns foram tomar café , outra a água, então a enfermaria ficou escura, cinco dos pacientes graves pediram alta, conta a lenda que até um cadeirante andou e foi embora, tudo ficou quieto, na manhã seguinte, depois de toda aquela medicação, pessoas andando pé ante pé com medo que Florisvaldo acordasse, todos olhando de rabo de olho, tinha gente até querendo pedir demissão, Pedro, o corajoso de pescoço enfaixado e pontos na testa, foi até o leito de Florisvaldo e depois voltou.

-Então – perguntou morrendo de medo da resposta, aquele médico que sumiu, lembram dele?

-Ele quer leite - disse Pedro.

JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 21/06/2021
Código do texto: T7284022
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