ESCOLHAS

Esbarra em mim, "tinha reunião aqui perto", mal o reconheço, estende a mão fria, "vamos tomar alguma coisa"...

De terno, "Giorgio Armani?'', e gravata de seda pergunta sobre mim, a revista. Não me fita, alterna o olhar entre o copo de "Chivas" e a porta; me interrompe, fala sobre a agência, a voz sobe, olhos luzem, nomeia clientes, marcas renomadas de veículos, eletrodomésticos, bebidas. Muda de tom, lamúrias pelo fim da publicidade de cigarros, "tinha várias contas". A seguir, sou crivado de jargões: "top of mind", "lead", "case", "deadline" ...

Atende o celular, "desculpe", muda de assunto, lamenta minha opção pelo jornalismo, "não dá grana". Recebe outra chamada, e, pressuroso, "perdão", pede a "dolorosa", paga. Promete marcar encontro em sua casa nos Jardins, "assim que der". Sai. Pega a Mercedes, parte velozmente.

Chego ao metrô, embarco. Sento, reflito sobre verdades, mentiras, escolhas..."Isso dá um conto".