OLHOS DE MENINO

Cresci em um mundo onde é possível fazer marmelada de banana, bananada de goiaba e goiabada de marmelo. Onde boneca de pano e sabugo de milho é gente sim e onde se pode pegar carona na cauda de um cometa ou simplesmente ver um espetáculo de piruetas com cheirinho de macarrão.

E quem disse que não podemos conversar com o repórter da televisão, prestando atenção em tudo o que ele diz? Eu sou a prova viva disso e a memória de elefante não falha ao lembrar, daquele garotinho de uns três anos de idade em frente à TV, respondendo a cada notícia do Sérgio Chapelen. Ele não estava sozinho. Eu lhe fazia companhia.

E assim a vida seguiu. Uma história inventada aqui, outra adaptada ali e fui brincando de gente grande e depois de virar gente grande passando a brincar de criança.

Brinco de bonecos e descobri que podem ser feitos de gravetos, fazendo fluir a imaginação. Conheci pessoas que também gostam de brincar. E o melhor? Temos todos, a mesma idade, idade essa que nem sei qual é... E também não me interessa descobrir.

Conheci uma pintora esquizofrênica encantadora, uma Gretchen que além de engraçada, assiste às aulas durante o caminho, enquanto a filha prova o vestido de casamento, um menino poeta que nos ensina que o afeto vem desde o feto, uma menina que prova que uma girafa pode nadar graciosamente e uma professora/atriz que recita trava-línguas como uma conversa casual e que Donald Trump e Bolsonaro podem ser divertidos e gente do bem.

Enfim, venho aprendendo a cada dia mais, a ter leveza na vida e na imaginação que não tem limites, a ver o mundo com os olhos de uma criança e que não é preciso buscar um portal para encontrar um mundo paralelo, pois ele está bem aqui... Na cabeça e no coração.

Marcelo Monthesi
Enviado por Marcelo Monthesi em 27/08/2021
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