No ônibus

O ano era 1990. Estava no ônibus. Voltava cansado de mais um dia de trabalho. Entardecer quente. Nenhuma nuvem no céu.

Mentalmente, confirma os itens da mochila: pente, escova de dentes, carteira com documentos, dinheiro, fichas telefônicas,marmita...

- Cadê a marmita?

Havia esquecido em cima da mesa do refeitório. Não sabia como levaria o almoço no dia seguinte.

O ônibus sacolejava, e a cada buraco na via, ele sentia um solavanco na castigada coluna, já machucada pelas hérnias de disco adquiridas nos serviços de obras em que ajudava seu pai Roberto. Nesse momento de lembranças, bateu aquela saudade:

- Que saudades papai! -falou baixinho.

Ele não via a hora de chegar em casa e comer aquele sonhado jantar.

O motorista do ônibus 918 (Linha Bangu-Bonsucesso) dirige com muita atenção pelas movimentadas ruas de Bangu. Ele tem que desviar o coletivo dos pedestres, bicicletas e até de meninos correndo atrás de pipas. Não imaginava o que estava para acontecer logo a frente, na curva da avenida Cônego de Vasconcelos.

O motorista reduz a velocidade e o homem com sua coluna rangendo de dor, vê a cena mais hilária do dia.

Ele não queria ri. Segura seu riso.

Seu rosto fica vermelho.

Sai lágrimas de seus olhos...

A gargalhada explode:

- Rá, rá, rá, rá, rá!!!!

Os passageiros do ônibus o olham estarrecidos. Achavam que ele estava louco. Alguns diziam:

- Ele está rindo de quê? - Pergunta o peixeiro da Peixaria Central de Padre Miguel.

- Será que enlouqueceu com o calor de Bangu?

Perguntava Cristina, a faxineira que todos os dias viajava no mesmo horário daquele estranho homem.

O pobre homem não conseguia parar suas gargalhadas.

O motorista é chamado:

- Motorista, pare o ônibus! - Tem um homem louco aqui dentro! - Falavam os passageiros.

O motorista para o coletivo próximo a cabine da polícia militar. O homem já está de joelhos no chão, chorando de tanto rir. Ele não consegue parar suas gargalhadas. O motorista fica em silêncio, pensando no que vai fazer.

O homem derrama lágrimas e continua rindo descontroladamente:

- Rá, rá, rá, rá...

Os passageiros, assustados, observam a cena estranha. Olham-se reciprocamente:

- O que será que houve? - Perguntam alguns.

- Será uma doença desconhecida? - Indagam outros.

Lá no fundinho do ônibus, uma senhora de vestido estampado, que havia saído de uma reunião secreta sobre as "teorias da conspiração", olha à todos com os olhos arregalados, se levanta e grita:

- É o fim do mundo!!!!!!

Os passageiros, que já estavam impressionados com a estranha situação, começam a correr e a gritar:

- Salve-se quem puder...

E era um corre-corre, tropeços, cai, levanta, empurra-empurra...

Uma grande confusão.

As janelas e portas do ônibus foram quebradas. Bancos voavam sem direção. Não se entendia mais nada.

Nas calçadas, as pessoas já falavam em assalto com reféns e coisa e tal. Os comerciantes fechavam suas portas, apavorados. Um caos total.

Dentro do ônibus o homem continuava com suas gargalhadas.

O grupamento da polícia militar chegou ao local. Os policiais ficaram intrigados com aqueles risos:

- Só pode estar drogado - disse o comandante do destacamento - esses jovens estão sempre em busca de grandes emoções e acabam enlouquecendo.

De repente, aparece um senhor de óculos escuros. Chapéu de couro na cabeça dizendo:

- Calma minha gente, eu sei o que esse jovem homem tem.

Desafio para os Recantistas:

O quê levou o jovem homem as gargalhadas?

Conto com você para terminar esse conto.

Marta Sirino
Enviado por Marta Sirino em 03/09/2021
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