23 de Agosto

Sol escova os cabelos enquanto afrontava seus tristes olhos no espelho. Narcísea, a bela mulher custa a se adaptar com a nova idade a cada ano que passa.

Com os cabelos já escovados, ela direciona o olhar para um dos porta-retratos em cima da penteadeira, e admira as delicadas linhas que sustentara seu rosto há alguns anos, através de uma expressiva foto. Em seguida, com as pontas dos dedos, eleva suas finas sobrancelhas e empina de forma leve o seu pequeno nariz. Sol permanece imóvel como se nada pensasse.

Após alguns instantes, a mulher se direciona a um pequeno baú envernizado e se volta ao espelho. Dentro do objeto há os mais caros perfumes e as mais belas maquiagens; Sol borrifa perfume em seu pescoço e corrige os pequenos sinais do seu com corretivos, bases e pó de arroz, e em um silêncio torturante, ela mais uma vez afronta o espelho.

Maquiada, a faz lembrar Sophia, sua única filha. Sol abaixa os olhos e uma lágrima borra sua demorada maquiagem. Mais uma vez ela direciona o olhar para a penteadeira, e o que mais lhe chama a atenção é o retrato da jovem Sofia. A mãe nesse momento debruça-se sobre velha e lustrosa penteadeira e por alguns instantes admira cuidadosamente a beleza da filha. De repente, Sol se entrega a um inesperado sorriso; Aquele espelho há muito tempo não refletia tal expressão, e entre lágrimas e gargalhadas a mulher se da conta que sua beleza jamais foi embora, pois sua filha era tão bonita quanto ela fora um dia. Sol enxuga seus verdes olhos, volta a pentear seus dourados cabelos, com ar de vitória sobre sua própria imagem refletida.

JHNETO Nascimento
Enviado por JHNETO Nascimento em 14/11/2007
Reeditado em 15/11/2007
Código do texto: T736500
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.