Entre amigos

(Contos/Cotidiano/Humor)

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Com a idade avançando, recomendações de alimentação sadia é o que não falta p’ra gente..., uns dizendo, come isso aquilo e aquilo outro, mas certas coisas nem pensar. Muito legal. – Eu sou daqueles bem disciplinado, vou comendo certinho tudo que me dizem que é bom. Não que tenha necessidade, não é isso, estou como vim p’ro mundo, bem sadio, sem ter, sequer, um dente cariado. Tudo funcionando perfeitamente, sim isso mesmo o que você pensou... rsrsr.., também.

 

– Só que de algum tempo p’ra cá, eu mesmo venho notando que ando muito gaiato; sim, alegre além da conta, às vezes beira o absurdo, o que minha mente me leva a fazer, logo eu que sempre fui muito sério... pô... então, fui me investigar e saber d’onde está vindo isso. – Mas antes do resultado dessa pesquisa vou lhe contar a última que me aconteceu, e que me faz rir até hoje. Lá vai.

 

Nossa cidade estava festiva completando aniversário, e uma das comemorações, aberta ao público, era a ida ao Teatro, pomposo e lindo, orgulho de todos nós; quem quisesse, poderia assistir a Orquestra sinfônica a custo zero e se deliciar com a beleza que é cada apresentação daqueles valorosos artistas.

 

Pois bem, minha filha me passou uma mensagem dizendo que havia reservado ingresso p’ra toda família e que eu não podia faltar. Eu li e pensei: - “vixe maria” isso não vai prestar, reunir todo esse pessoal é o mesmo que estar num circo, palhaçada p’ra todo lado, eu sou o mais sério e me encontro nesse estado! Sei não..., mas vamos lá. Me organizei e na noite certa estávamos todos lá; – logo que cheguei a turma toda já estava na fila, um deles falou: - Olha, ele veio mesmo, mas parece que veio p’ra dormir, trouxe até o casaco, e todos riram – aí, eu rindo, falei: - Claro que vim abestado, não tá me vendo aqui e o casaco é p’ra emprestar p’ra tu mãe que não sabe que aí dentro faz frio pra caramba. Ela vai se cagar todinha... rsrsr... aí meu filho, rindo falou: Olha só, isso é o Papai!? - está muito gaiato, aí eu o chamei: - vamos ali comprar pipoca p’ra essa macacada, assim, enquanto esperam abrir as portas não ficam com leseira, o único perigo é se engasgarem. Ele continuou rindo, fomos e voltamos.

 

As portas se abriram e todos começaram a entrar. O mais velho de todos é bem escurinho e foi vestido de roupa preta e máscara preta, quando o rapaz o abordou sobre o ingresso e o cartão da vacina, um pouco atrás dele eu falei: - O Zorro aí só esqueceu o chapéu e a espada, mas o resto trouxe tudo, Ele respondeu rindo: - Zorro tu sabes quem é – todo mundo riu, e o bilheteiro deixou ele passar. – Já dentro do teatro, todos se acomodaram, minha querida acompanhante sentou-se ao meu lado, respeitando uma cadeira vazia “coisas da COVID/19” – eu vesti meu casaco e Ela perguntou, não era p’ra tua sogra¿! Eu respondi: - Tá, vai pensando... tu acreditou mesmo?! Eu hein! ...  Ela se espocou de ri e falou: Você não quer prestar mesmo, tá muito gaiato!

 

As luzes se modificaram e os artistas começaram a se acomodar em suas cadeiras, cada qual com seu instrumento musical, em seguida o Maestro entrou todos aplaudiram e finalmente o show começou. Foi aí que o tal espírito baixou de vez em mim. Um dos violinistas era bem baixinho e muito gordinho, camisa e paletó pareciam muito apertados; sentado na cadeira de pernas abertas, me pareceu mais com um sapo bochechudo, eu querendo me policiar contra o preconceito, mas a vontade de rir era bem maior.

 

Como se não bastasse, um pensamento idiota tomou conta de mim, na minha mente, veio a visão de um bichinho com cara de gente, olhando p’ra mim, rindo e subindo no palco, enquanto me dizia, tu quer rir é?! ..., tu vai ver agora... - foi direto p’ra cadeira do baixinho, subiu por sua perna e se alojou entre as duas, naquela parte mais íntima que estava tufada por conta da calça apertada. Nesse instante a música que estava sendo tocada exigia certa empolgação do violinista e na minha cabeça, ele estava sentindo cócegas no saco. E eu pensei, já morrendo de rir: -lascou-se esse cara vai esculhambar com a orquestra, se ele deixar o violino p’ra se coçar, vai lascar tudo. A música mudou de tom e ele ficou mais sereno, então eu pensei, já me espocando de rir, ele gostou da coceira e está em êxtase ... e novamente a música exigia mais pressa no toque do violino e ele se empolgava, enquanto eu rindo baixinho me torcia na cadeira.

 

Minha querida ao lado, também sorrindo, perguntou: - Você pode me dizer do que você tanto sorri aí sozinho, não estou entendendo nada. No mesmo instante que ela se virou, olhando, sem querer, para o homenzinho que eu chamei de Zorro. Então eu falei, me mostrando assustado: - o que foi?! Ele se cagou?! Ela se espocou de rir... e me disse; ficou doido de vez - pôs a mão na boca e virou o rosto p’ro outro lado e eu voltei a olhar p’ro palco, com meus pensamentos mais hilários do mundo.

 

No final fomos comer uma pizza na lanchonete ao lado, o garçom me perguntou sobre os sabores e eu lhe falei: traga uma de tamanho médio, metade calabresa e a outra metade de rapadura. Ele sorriu e perguntou p’ra quem seria a rapadura?! Eu apontei p’ra minha acompanhante, ela morreu de rir. E eu lhe contei tudo que se passou lá no Teatro.

 

Se é efeito do que ando comendo, eu não sei, mas dizem que Arroz, banana, feijão e abacate são alimentos ricos nessa questão do humor, são fontes de triptofano, que estimula a produção de serotonina, que, segundo os entendidos, é um neurotransmissor que melhora o humor e traz a sensação de bem-estar e prazer. – Então é isso... fiquei pensando com meus botões: - Ando tomando muita vitaminada de abacate e o efeito está levando p’ra outros rumos.

 

Para de rir... rsrsr... fecha a boca.

 

 

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Antônio Souza

(Contos/Cotidiano/Humor)

 

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