A Saga de Uma Mulher Divorciada

Depois de um namoro de cinco anos e um casamento dez, eu me separei. Não dava mais para ficar naquele casamento completamente falido e cheio de incompatibilidades. Mas toda separação é dolorida e por pior que esteja a relação, quinze anos de convivência não são quinze dias. A gente sente falta até do que era ruim. Eu fiquei sozinha. Não tive filhos e não tinha mais nenhum vínculo com ele. Sempre fui uma mulher independente, com um excelente e estável emprego.

Estávamos no principio dos anos 2000.

A princípio fiquei meio perdida e só saia de casa para trabalhar.

Aos poucos eu fui retornando ao meu convívio com amigas e colegas e comecei a sair um pouco para me divertir.

Três meses depois eu entrei em período de férias e viajei com duas amigas. O lugar para onde fomos era bem animado e tinha muitos eventos. No primeiro dia lá, saímos, fomos a uma casa de shows. Notei que tinha uma garota que estava olhando para mesa onde estávamos. Uma de minhas amigas disse pra que ela estava olhando pra mim. Eu respondi:

-Para com isto. É lógico que não é isto.

-Você não sabe como estão as coisas atualmente. Ficou quinze anos no mundinho do seu namoro e casamento, as coisas mudaram muito.

Eu não dei importância.

Algum tempo depois a garota se aproximou de mim e me deu uma cantada. Eu fiquei completamente constrangida e disse:

-Olha, você está garimpando no terreno errado. Eu sou hétero e gosto das diferenças, as coincidências não me atraem.

Ela foi muito educada e se retirou.

Passei dias maravilhosos naquele lugar. Já estava me acostumando à vida de solteira.

Eu já era uma quarentona, mas nos tempos atuais, como toda mulher se cuida muito, eu não parecia já ter chegado aos quarenta e sempre chamei a atenção pela minha boa aparência. Eu voltei a sair com minhas amigas.

Um noite estávamos em uma casa de shows. Estávamos nos divertindo.

De repente um garotão de uns dezoito anos se aproximou de mim com uma cantada muito fajuta. Eu fui passando e ele me cercou:

-Sabia que eu posso te levar às nuvens? Você não vai se arrepender. Vai perder?

-Saia das fraldas, depois a gente conversa.

Respondi e saí sem nem olhar pra ele

O tempo foi passando e eu descobri que durante o tempo que fiquei casada o mundo mudou muito.

Todos os homens da minha faixa etária estavam casados ou não eram interessantes. E os que estavam sozinhos e eram minimamente interessantes, queriam as garotas novinhas. E os novinhos queriam as mais velhas e independentes. A gente até imagina o porquê.

Mas eu realmente não estava interessada em um novo relacionamento estava amando minha vida de solteira livre e independente.

Eu percebi também que em pleno século XXI, muitos homens pensam que uma mulher divorciada está disponível e louca por um homem do seu lado. E que vai aceitar qualquer resto de feira pra não ficar sozinha. Como estão enganados! Uma mulher bem resolvida não precisa estar sempre acompanhada de um homem.

Depois de um tempo comecei a sair pouco. Estava ficando entediada com tanta futilidade e com tantas cantadas idiotas.

Uma noite, eu estava com minhas amigas num barzinho. Notei que tinha um homem com aparência de que estava beirando os quarenta anos. Era um homem lindo, com cara de nerd e estava me olhando. Eu me senti atraída por ele imediatamente. Dois quarentões não precisam ficar nos olhares sem tomar uma atitude.

Pouco depois nos apresentamos. Ele era um homem inteligente, sabia sustentar uma conversa de alto nível, era simpático, educado e gentil. Eu me encantei com ele e senti que ele também gostou de mim. Ele me disse que era solteiro e sozinho.

Encontramos outras vezes e quando ele me beijou eu fiquei nas nuvens. Ele era sempre gentil e tinha uma delicadeza na medida certa. Comecei a ficar muito interessas nele. Ele ligava todos os dias e a gente sempre se encontrava. Mas ele nunca passava dos beijos e abraços.

Uma noite ele foi até minha casa. Ficamos conversando por muito tempo e ele não tomou nenhuma atitude além dos beijos. Comecei a achar estranha a atitude dele.

Ficamos assim por mais um tempo. Ele nunca tomava uma atitude, nunca queria ir além das carícias.

Mas eu estava gostando tanto dele, gostava tanto de conversar com ele, de estar com ele que relevei aquela atitude dele, pensei que seria um certo respeito e até achei legal.

Um tempo depois, eu já estava me cansando daquela situação. Não éramos adolescentes pra ficar ali só nos abraços e beijos.

Um dia eu tomei uma atitude pra ele perceber que eu queria muito mais do que ficar ali no sofá, só no amasso.

Ele então se afastou de mim e disse:

-Você sabe que eu divido o meu apartamento com um amigo, não é?

-Sim, eu sei.

-Pois é. Eu tenho que uma coisa pra lhe dizer, mas não estou sabendo como.

-Pois diga logo de uma vez.

-É que… que…

-Quê?

-Ele é mais que meu amigo, ele é meu namorado.

-O quê? E o que você faz aqui comigo então? Por que quis me conhecer, porque continuou saindo comigo. Eu não estou entendendo.

Eu estava sem chão. Talvez eu tenha sido muito inocente em não perceber. E eu estava muito triste porque estava gostando muito dele. E ele disse:

-É que eu gostei muito de você. Você é uma mulher linda, inteligente, elegante, fina. Você sabe entrar e sair de qualquer ambiente…

Ele se calou e eu disse:

-E daí?

-Daí que eu preciso de uma mulher comigo. Minha família não sabe que eu tenho um namorado. Eu preciso de uma mulher para os meus eventos familiares, sociais e profissionais.

-Eu não estou acreditando. Qual o problema de você assumir a sua orientação sexual?

Ele se calou.

-Você quer uma atriz ou um objeto pra você exibir fora de quatro paredes? É isso?

-Eu gostaria muito que você entendesse. Eu poderia até lhe dar uma ajuda de custo para você ir aos eventos comigo.

-Você está me ofendendo. Quem pensa que eu sou pra precisar de ajuda de custo? Eu não sou uma boneca de luxo pra você exibir por aí.

-Não foi minha intenção lhe ofender. Eu tenho muito respeito por você.

-Sabe o que você faz? Coloca um anuncio procurando uma acompanhante. Está cheio de mulheres por aí que fazem este trabalho. Eu tenho profissão, tenho emprego. Não preciso me prestar a este papel. E agora saia da minha casa. Se você quer ser infeliz fingindo ser o que não é, este não é o meu caso. Adeus.

-Desculpe se lhe ofendi. Tchau, até qualquer dia.

-Adeus.

Ele se foi e eu fiquei muito triste. Jamais esperava passar por tal situação. Eu não entendo uma pessoa não assumir o que é. Nada justifica uma atitude desta. Eu nunca tive preconceito e não entendo uma pessoa não assumir sua orientação sexual e ainda me fazer uma proposta desta.

Mas passou. E nunca foi minha prioridade encontrar um homem porque eu posso muito bem viver sozinha.

Tempos depois eu conheci um cara que me fascinou. Nós nos apaixonamos estamos juntos até hoje. Sem cobranças, sem casamento. Somos namorados, só namorados, eternos namorados.`

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 10/12/2021
Reeditado em 23/11/2022
Código do texto: T7404563
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