Combina Perfeitamente!

02.01.22

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Adoro as empadinhas com a sua massa podre que se desfaz à primeira mordida, espalhando os seus sabores deliciosamente combinados pela boca. Gosto das tradicionais, de palmito, de frango e de camarão,essa, hoje mais comum. Fui apresentado a elas pelo meu pai na minha infância. Ele adorava empadinhas.

Era o programa de sábado pela manhã. Íamos comê-las nos locais, geralmente em bares de portugueses que introduziram esse quitute aqui. Uma “delícia” esse evento nos meus seis anos de vida. Inesquecível!

Morávamos em São Paulo naquela época e ele explorava as “bombonieres” nos cinemas que tinha em sociedade com o meu tio, seu irmão, em vários locais da cidade. Visitava-as aos sábados, dia de fechamento semanal ou a féria como dizia, das vendas de chocolates, bombons e demais doces vendidos logo à entrada das salas.

Aproveitava eu, enquanto ele conferia os números, para comer os bombons de cereja com licor da marca Prink, deliciosos e inigualáveis e os dropes Dulcora, que o paladar adora. Hoje, não existem mais estas marcas, muito populares na época.

Tinha dois lugares com as melhores empadas da cidade, segundo ele:

-Um no final da Avenida Domingos de Moraes, local em que havia um dos cinemas e ao lado, este bar com as melhores empadinhas para ele. O nome do local eu não me recordo. Tanto o cinema, quanto o boteco das empadas foram engolidos pelos anos de mudanças do nosso cotidiano e da cidade. Uma pena!

Lembro-me que era em uma garagem com o balcão ao fundo com a estufa envidraçada expondo-as enfileiradas, quentinhas e cheirosas. Apetitosas, melhor dizendo. E para nos atender, um português de cabelos e bigodes pretos com seu sotaque e forma de falar característico.

Ele pedia sempre uma de palmito e uma de frango – não havia de camarão naquela época. Acompanhava uma garrafa de guaraná Antártica, a “caçulinha”, pra cada um. Eu preferia coca, mas bebia também o guaraná. Ele se deliciava a cada mordida, fechando os olhos de prazer. A combinação era quase perfeita. Eu as devorava com volúpia, comendo às vezes duas de cada.

-O segundo lugar das melhores empadas do meu pai ficava no fim da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio esquina com a Rua Joaquim Floriano. O bar, também de portugueses, ficava embaixo de um prédio e suas empadinhas também eram deliciosas.

O cinema ficava mais abaixo na Rua Joaquim Floriano, mas íamos lá às vezes mesmo sem ser aos sábados, pois elas mereciam uma visita.

Essas lembranças me vieram à mente enquanto estava sentado em um café que fica no bairro em que iremos morar - logo mudaremos da praia para o centro da ilha de Florianópolis. A especialidade do café é a empada, não empadinhas, como as daquela época. Hoje são grandes - uma refeição e tanto.

Estava lá com a minha mulher com o olhar longe e absorto com as lembranças das empadinhas do meu pai, quando a escuto dizer:

-Qual você vai escolher Fernandinho?

-Qual? Ah, qual empada? Uma de Frango e outra de Palmito. E com uma coca com gelo e limão que combina perfeitamente – digo levantando-me da mesa, indo ao balcão no qual estavam elas a minha espera.

Feliz 2022, se possível com empadinhas!

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 02/01/2022
Reeditado em 03/01/2022
Código do texto: T7420267
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