Fábrica em chamas

Hoje vou contar a vocês mais um capítulo da novela real que não passa na Globo, onde não há cena de amor, mas sim aprendiz dentro de uma cela.

Preparem os ouvidos, preparem o coração, porque dura é a realidade.

Era uma vez uma fábrica muito engraçada com uma bonita fachada e quase ninguém ali sabia que era um centro cultural, imaginavam muitas coisas ali, menos ser um ponto de cultura.

O que sabiam do que se tratavam, tinham acesso à dança, teatro, música, literatura e conhecimento de diversos tipos de manifestações culturais e até um lanchinho ganhavam, ou seja, a qualidade era impossível questionar. No passado foi o paraíso, no presente, as coisas ficaram bem diferentes.

A crise surgiu, governo caiu, aqueles que não foram demitidos viram suas rendas caírem.

O governador arrependido de ter colocado equipamentos culturais nas periferias, porque arte faz o povo pensar e se o povo começa a questionar o sistema atual, as estruturas serão abaladas. Junto com a empresa terceirizada que toma conta do local, ansiosa para diminuir os custos e aumentar sua margem de lucro, aproveitaram da crise para poder sucatear e quem sabe fechar e privatizar o espaço público já que o terreno é uma mina de ouro, onde qualquer empresa compra e paga bem.

Resultado: trabalhadores dispensados, horário da biblioteca reduzido, poucos eventos, qualidade do lanche duvidoso, horário dos ateliês diminuídos, educadores sobrecarregados pelo trabalho, material de qualidade para os ateliês alguém viu?

É claro que tudo isso foi realizado sem consultar e muito menos avisar os frequentadores, achando que íamos aceitar tudo passivamente sem questionamento, subestimando nossa inteligência. Só acharam!

A máscara caiu e a verdadeira face dessa empresa refletiu a falta de diálogo, transparência, fora a truculência.

A bomba explodiu, os protestos surgiram, o grito sufocado foi liberado. Começou no CR e logo se espalhou por outras unidades. Retalharam, e aí a paciência se esgotou e no CR o pessoal ocupou, tomando de volta o que era seu por direito. Estão dando exemplo do que é coletividade, diálogo e relacionamento com a comunidade, além de mostrar uma nova forma de administração. Sistema treta!

São Luís tentou, mas não foi funcionou, polícia entrou e junto com alguns pelegos foram retirados. Aprendizes foram ameaçados e um deles para a delegacia foi levado. Em outras unidades, os protestos logo foram desmobilizados com vários sendo cooptados.

Educadores se revoltaram e por esse e vários outros motivos, em greve entraram.

Brasilândia também não se conformou e a fábrica ocupou. A empresa p da vida chamou a polícia e no outro dia, a tropa de choque entrou, levando todos para a delegacia.

Muitas pessoas se mobilizaram e tiraram a molecada da cadeia. Que tempos são esses em que protestar reivindicar é crime? Fazer política é inaceitável, crime inafiançável!

No VNC o medo se espalhou e alguém a polícia chamou. Policiais dentro e fora do lugar, à porta de entrada fechada e vigiada. Fardados ou a paisana, agora fazem o serviço da monitoria que é vigiar aprendiz, impedir deles se mobilizarem e qualquer coisa, tem sempre um para lhes avisarem.

O final dessa novela ninguém sabe onde vai dar, mas todos sabem que a paz acabou e tão cedo as coisas não voltarão a ser como antes.

Cabe a mim, cabe a você, mudar a história desse roteiro, por isso não deixe de acompanhar e participar dos próximos capítulos da novela Fábrica em chamas!

(2016)