O Dia de Martina

22.03.22

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Nasceu Martina, a minha segunda neta, no sábado agora passado dia 19 de março. Um dia antes do meu aniversário. Foi um agradável inesperado. Apostara que ela nasceria neste dia 20 de março. A previsão era para o início de abril, pois seria de parto normal até então. Errei por um dia.

Conto a seguir como aconteceu o imprevisível e delicioso processo que presenciei do nascimento de uma vida, de Martina:

Planejei ir para São Paulo passar o meu aniversário com os meus filhos no domingo. Iria de motocicleta no sábado, dia 19, mas como chovera muito e na quinta feira, dia 17, o tempo firmaria, seria melhor viajar neste dia. Falei com o meu filho Marcos, futuro papai, pois ficaria hospedado em sua casa, se poderia antecipar a ida e prevendo voltar na segunda feira, dia 21. Concordou. Disse que naquela quinta feira iria levar a minha nora a médica na hora do almoço, para as verificações de rotina e posição da Martina, se já encaixara ou não.

Na noite anterior a minha partida, uma linda lua cheia brilhava no céu, e dizem, que depois de nove luas assim o nascimento acontece. Estávamos caminhando eu e minha mulher em praça perto de nossa casa em Florianópolis, e ao ver o enorme disco prateado fulgurante no firmamento, tirei uma foto com o celular e a enviei para a minha nora Lili, dizendo que logo nasceria a Martina, ou Martinica como a apelidei. Meu filho dizia que ela não seria pisciana como eu, e sim ariana, nascendo em abril. Foi um prenuncio.

Saí cedo de casa com um dia lindo e ensolarado, pois chovera toda a semana. Estava feliz e na expectativa de que ganharia ou não a aposta que fiz com a faxineira do meu filho, Eugenia, que disse que seria o nascimento no do dela, 25 de março. A sorte estava posta.

A viagem começou tranquila, mas depois, com os vários engarrafamentos que enfrentei, em torno de sete, foi infernal. Andei cerca de cinquenta quilômetros por entre os inúmeros caminhões parados e emparelhados, e pelo acostamento. A concessionária responsável pela via estava recapeando o piso da estrada e cortando o mato nas laterais da pista. Se fosse de carro com a minha mulher, passaríamos o dia, e talvez a noite na estrada.

Cheguei a capital paulista e fui comer e beber algo, pois estava faminto e sedento. A viagem desidrata bastante pela forte transpiração causada pelo uso das roupas de proteção. O calor era forte naquele dia. Mandei mensagem para o meu filho para saber se já estavam em casa. Respondeu que sairiam do consultório pelas três e meia da tarde. Eram duas e meia. Resolvi esperar no restaurante árabe em que estava. Comi dois quibes fritos e tomei duas cocas em lata, aplacando a sede e a fome que tinha.

Fiz um pouco de hora e fui para a casa deles. No caminho, a ponteira da alavanca do câmbio que eu arrumara com Durepox (levei um tombo meses atrás quebrando-a) e funcionara bem até então, caiu e não pude parar para pegá-la. Consegui assim mesmo levar a La Poderosa, como a apelidei, até a casa do meu filho. Mas teria que arrumá-la, pois não voltaria para Floripa com ela assim. Liguei para o mecânico que consertava as motos quando morei aqui, e disse-me que poderia levar só na segunda feira, pois estava com muita coisa para entregar na sexta-feira, e sábado não trabalhava mais. Mudanças inesperadas de planos. O que o imprevisível nos apronta.

Reencontrei o meu filho e nora em sua casa e matei um pouco as saudades, pois a distancia é cruel. Fazia quase dois meses que não nos víamos. Ele estava muito ansioso. Parecia que era ele quem iria parir. Ela, tranquila e de bom humor, dizia isso para mim.

Em um momento em que ele não estava junto, Lili me disse:

-A médica falou hoje durante a consulta que a Martina é preguiçosa, que ainda não virou e que está com pouco líquido amniótico. Assim, é provável que tenhamos que fazer cesárea, para ela não sofrer. Para eu me acostumar com essa ideia. Caso ela fique sem se mexer por mais de duas horas seguidas, pegar a malinha e ir para o hospital.

-Ela esta se mexendo, não? – perguntei a ela.

-Sim, ela esta sim, mas menos que antes.

Fomos naquela noite jantar na casa do meu outro filho, Gabriel, pai da querida Chiara, a primeira netinha, que está com oito meses e é uma gracinha. Muito curiosa, te olha fixamente e quase não pisca. Joga beijinhos com a sua boquinha e balança a cabeça dizendo não. Ser avô é uma das dádivas da nossa vida.

Descansei na sexta-feira da viagem, pois o meu corpo com seus sessenta e oito, ou melhor, setenta anos de vida, pois dois anos não faz diferença, padeceu bastante.

No sábado pela manhã, Lili desceu para o café da manhã que lhe preparei, pois me tornei o cozinheiro da casa com o maior prazer, e me diz sem meu filho presente:

-Esta quietinha!

-Faz tempo?

-Quase uma hora. Vou tomar café e ver se ela se manifesta. Não falei nada para o Marcos para ele não ficar ainda mais ansioso – completou minha nora.

-Fez bem. Vocês já estão com as malas prontas?

-Eu sim, ele não! Ele deixa tudo para a última hora.

Fiquei curioso e pensei: será hoje o dia da chegada da Martinica? E vou errar por um dia? Que interessante e inesperado seria, não? O que o destino e o acaso nos proporcionam. Se não antecipasse a minha vinda e o problema da moto, não presenciaria esse delicioso e inesperado processo do nascer da Martina. Sou uma pessoa de sorte.

Lili tomou o seu café da manhã e voltou para perto de mim. Meu filho desceu para também fazer essa refeição. Ela me olhou um pouco assustada. Ele foi para a copa.

-E ai? – perguntei.

-Esta quieta faz quase uma hora e meia. Liguei para a médica e deu caixa postal. Enviei mensagem também.

-Olha que a Matina vai nascer hoje hein? E vou perder a aposta por um dia – brinquei com minha norinha querida.

Meu filho ouvindo a nossa conversa veio até nós e disse:

-O que foi? – arregalando os olhos de ansiedade.

-Martina esta quietinha há quase duas horas. Acho que vamos para o Hospital. Fez a sua mala? – diz ela para ele.

-É mesmo? Falou com a médica? – perguntou ele agitado.

Naquele momento ela recebeu a ligação da médica e disse o que ocorria com Martina. Terminada a ligação, nos diz:

-Vamos para o hospital para ela fazer uma avaliação da situação e quem sabe Martina nasça hoje!

Sorri de alegria e felicidade, sabia que Martina viria naquele dia. Perdi a aposta, mas foi melhor assim, pois comemorar dois aniversários no mesmo dia é muito chato. Ela merece ter o seu.

No fim da tarde, recebo as fotos da sala de parto com a minha querida Martinica já em nosso mundo. Bem vinda ao seu dia Martina!

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 24/03/2022
Código do texto: T7479771
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