GOTINHAS

 

Amo águas, sendo líquida, sou inteira em partes, eu as chamo carinhosamente de 'gotinhas'.

 

Gotinhas de amor e berço, gotinhas de sentimentos, alegria, saudade, tristeza, aflição, paixão, gratidão, raiva, gotinhas também de fé, solidariedade, resiliência, respeito, esperança e ansiedade.

 

Quando alguma delas me falta, eu desalinho e me sinto incompleta. Vou contar uma história real, tentarei não alongar demais.

 

Meado dos anos noventa, tudo estava perfeito em minha vida e perdi uma pessoa, não por morte, doença ou amor...um grande amigo, sumiu sem deixar pistas para ninguém e até hoje a falta da gotinha codinome saudade, não se apresentou. Acho estranho não conseguir ter saudade somente dele, após anos de busca todos desistimos, a gotinha chamada raiva à princípio norteou a mim e alguns outros, nos sentimos abandonados, descartados e logo outras gotinhas amoleceram o coração, as gotinhas de resiliência e  fé. O desejo de vê-lo bem e imaginar o que pode ter acontecido, parece ter virado a dita estatística, tão falada nos últimos anos, dentro de mim. Repito por não conseguir entender, que motivo é esse que desconheço, o porque da gotinha saudade não me visitar só em relação à ele.

 

Talvez meu cérebro tenha criado um domo protetor dentro do peito, para me preservar, pois esta pessoa e eu éramos muito ligadas, amigos mais que irmãos.

 

A vida seguiu, sigo a vida que me chama, úmida ou encharcada de outras gotinhas, pensando que a minha gotinha chamada saudade se tornou seletiva.

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 11/05/2022
Código do texto: T7514257
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