O CARRINHO DE ROLIMÃ
À tardinha, a meninada acorria até a calçada da Casa Grande, onde os rolimãs, quais carros de Fórmula I, tomavam seus lugares, à espera do início da brincadeira.
Meu avô, bondosa e pacientemente, assistia a tudo, sentado na cadeira de balanço, acolchoada de palhinhas.
A algazarra daquela criançada não o incomodava. Ele aplaudia a todos, admirado com as peripécias que cada piloto fazia. Ele festejava cada um com abraços e bombons.
Hoje, os brinquedos eletrônicos transformam as crianças em robôs, pois o apertar de um simples botão impulsiona os carrinhos de corrida numa pista eletrônica. Quando apresentam algum defeito, as oficinas especializadas os consertam.
Com o rolimã não era assim. Cada menino era ao mesmo tempo piloto e mecânico.
Vovô admirava a habilidade daqueles meninos.
Um dia, vovô Júlio notou que Arquimedes, filho de Raimundo , seu empregado, sempre aparecia sem rolimã. O olhar triste do menino inquietara o velho. Chamou-o a um canto e perguntou-lhe:
- Por que você não participa da brincadeira?
Ah! padrinho, não tenho rolimã!
Dias depois, Arquimedes dava a primeira volta no seu carrinho, que se destacava dos demais, pelo colorido.
Vovô orgulhava-se de seu afilhado, pois este era destaque, quando das competições. Foi tricampeão.
Do rolimã, Arquimedes chegaria ao Kart, onde também seria vencedor. Do Kart, à Fórmula 3000. Desta, à Fórmula 1, onde, predestinado, seria também campeão.
Nessa sua caminhada de vencedor, jamais apagara de sua memória a figura daquele velhinho que lhe ensinou o caminho da perseverança, o caminha da vitória.
Hoje, Arquimedes mantém uma escolinha de rolimã para crianças pobres, de onde já saíram vários campeões.