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DIA MUNDIAL DA CRIANÇA - UM CONTO, UMA REFLEXÃO

 

 

Mais uma efeméride se vai comemorar, a generalidade das crianças, aquelas que têm uma vida sem problemas e sem carência dos bens mais importantes vai ser integrada nos festejos na sua escola, creche ou jardim de infância. Nas ruas, nos centros comerciais, são distribuídos balões e guloseimas. É o Dia Mundial da Criança!

Felizes aqueles que assim podem passar a data.

Outros há que terão um dia como os outros, sem mimos nem prendas, com fome e sobressaltos. Tanta miséria, em tantos lares…

Quando constatamos esses contrastes, até parece que Deus tem andado distraído…

 

 

 

UM PEQUENO CONTO…

 

Igor morava nos arredores de Kharkiv, na zona este da Ucrânia, numa área residencial. A pouco mais de cem metros ficava a sua escola, destinada a meninos a frequentar a fase elementar da escolaridade obrigatória.

Os dias passava-os ou nas aulas, aprendendo as matérias inerentes ao seu ano escolar, ou nos intervalos, brincando com os outros meninos do seu grupo etário. No fim de cada dia, também brincava na rua, despreocupado.

Mas um dia veio em que o céu ficou cinzento plúmbeo, o ambiente irrespirável e o ruído ensurdecedor. A cidade estava a ser bombardeada e apenas houve tempo para a família pegar nos poucos haveres e procurar abrigo no pavilhão desportivo, juntamente com as outras famílias, que apavoradas e desorientadas, não sabiam o que fazer.

As bombas caíram em catadupa e os edifícios desabavam como baralhos de cartas.

Igor viu com seus olhos as ruínas da sua própria casa e também as  casas onde algum tempo antes moravam seus amigos e respetivas famílias, agora um triste espetáculo de desolação e morte, muitos corpos sob os escombros, os voluntários desesperados procurando sinais de vida… Debalde…

Passados alguns dias, soube que vários dos seus amigos tinham sucumbido soterrados, quer na escola quer em vários edifícios habitacionais que colapsaram com o forte impacto das bombas.

O seu irmão mais velho, Nikolai,  foi gravemente ferido e conduzido a um hospital de campanha, sem grandes condições. Dado que seu pai foi juntar-se às milícias que se formaram para defender o país, ele tomou a figura de heróico protetor e ficou junto da mãe e da avó, defendendo-as dos maus...

Ainda passaram muitos dias até o cheiro a morte se desvanecer no ar.

Soube que muitas partes do país estavam completamente destruídas e o país tinha sofrido enormes perdas humanas e materiais.

Na sua ingenuidade, não percebia a razão de tudo aquilo, porque seu país tinha sido invadido…

Talvez que mais tarde, um dia, quando crescesse, alguém lhe desse uma explicação cabal para o acontecido…

Até lá, tentava consolar sua mãe e sua avó lamentando o demorado internamento de seu irmão e a miséria que se abatera sobre todos…

 

 

 

 

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 31/05/2022
Reeditado em 02/06/2022
Código do texto: T7527536
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