Hilário, o Gato e o Cachorro

06.07.22

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Seu nome é Hilário. É uma pessoa do bem e vive de querer ajudar a todos, pois acredita que uma pessoa deva ser abnegada e altruísta.

Sua silhueta é interessante, coadunando com seu nome, pois é baixo, rotundo, cabelos vermelhos curtos e penteados para trás com fixador, óculos fundo de garrafa, pele branca como neve, salpicada de pintas, de quem nunca ficou ao sol. Sua idade gira pelos trinta e cinco anos e é funcionário público. Mas o que mais lhe é peculiar é sua voz: esganiçada e fina, que ao falar, ofende os tímpanos profunda e insuportavelmente de quem o escuta. Solteiro, tem um gato e um papagaio que o imita tal qual. Filho único, mora com a mãe imperativa, e é para ela seu eterno menininho. Seu pai saiu de casa ao nascer. Uma figura!

Assim, tenta no dia a dia ser o mais colaborativo com as pessoas nas situações do cotidiano, mas nem sempre com o resultado esperado, principalmente para elas. Não se frustra e continua como é: um bom sujeito.

Para ilustrar tal personagem, vamos ao que aconteceu:

Ia ao seu trabalho pelo caminho de sempre, andando com seu passo de elefante cansado, quando se depara, no alto do galho de uma árvore em uma casa, com um filhote de gato miando desesperadamente de medo, pelo iminente ataque de um cachorro plantado ao pé da mexeriqueira cheia de frutos.

Hilário não teve dúvida, subiu no muro de divisa com a calçada, e em pé, tentando não ser pego pelo cão, que ao vê-lo começou a latir agressivamente, estendeu seu guarda-chuva – item inseparável da sua indumentária, para que o felino apavorado fugisse por ele do inimigo a espreita. O gato não entendeu a intenção de Hilário, e assustado, adentrou mais nos galhos da árvore. Ele perdeu equilíbrio com o recuo do felino e caiu de boca no chão, afugentando o cachorro, que correu ganindo assustado em direção a casa.

Alertado pelo latido, saiu pela porta da entrada um senhor alto e corpulento, com cara de poucos amigos, e vendo Hilário estatelado no gramado procurando os óculos, gritou:

-Mas o que faz aqui no meu terreno? Está tentando roubar minhas mexericas?

Hilário deitado, mas já de óculos, começou a se levantar desajeitadamente com a ajuda do guarda-chuva, pois o seu corpo flácido e pesado exigia-lhe muito esforço. Em pé, recompôs-se e falou ao dono da casa:

-Desculpa-me senhor, mas fui tentar ajudar o gatinho que estava miando loucamente de medo pelo ataque do cachorro, desequilibrei-me e caí no seu terreno. Foi a minha intenção, nada mais. Mil desculpas!

O proprietário mal encarado começou a rir do som da voz de taquara rachada e da silhueta do invasor, tendo agora o cão ao seu lado, e curiosamente, o filhote que estava em apuros, caminhando calmamente pelo gramado em direção ao homem e ao cão. Os três encaravam Hilário, curiosos.

O carrancudo, agora sorrindo, viu o constrangimento do intruso e se compadeceu da cômica figura, dizendo-lhe indo em sua direção :

-Esse filhote de gato é um sem vergonha, como todo gato. Fica miando como se o Hulk fosse pegá-lo. São amigos, e à noite o danado dorme na barriga do cão. Agradeço a sua boa ação, mesmo que desastrada, mas foi enganado pelo gato. Agora, pegue estas mexericas que são muito doces e siga o seu caminho. Tenha um bom dia! – entregando-lhe duas enormes frutas.

Hilário pegou-as e agradeceu:

-Muito obrigado! – falando com sua voz incomodante, fazendo rir o dono da casa e o cachorro latir, ou melhor uivar. O gatinho encarava-o indiferente.

Hilário seguiu feliz pela sua boa ação, mesmo que totalmente atrapalhada.

-Missão cumprida! E recompensado com duas lindas e cheirosas mexericas, apesar de enganado pelo gato e cachorro. Esses animais! – pensou sorrindo de felicidade.

Hilário é hilário.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 07/07/2022
Reeditado em 08/07/2022
Código do texto: T7554485
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