Uma visitante chamada Tristeza

De vez em sempre eu recebo a visita de uma mulher chamada Tristeza. Uma mulher de pele branca, toda vestida de preto, ela usa um perfume de nostalgia com notas de amor não correspondido, na sua blusa pode-se ler a palavra solidão, a sua calça preta esconde os seus pés, o que a faz parecer flutuar. Quando ela me aparece, sempre sem avisar, entra sem bater, senta e me convida para tomar um café. Durante os próximos cinco minutos eu ouço-a falar sobre alguns episódios na nossa trajetória, minhas escolhas erradas, minha imaturidade, sobre como seria hoje se eu tivesse feito isso ao invés daquilo. Eu já tentei não atendê-la quando ela aparece, mas é sempre em vão, ela abre as portas, pula as janelas ou simplesmente se materializa junto à mesa e lá vamos nós outra vez. É como uma doença venérea que de tempos em tempos aparece pra me lembrar que está alí, comigo, até o dia final. As vezes uma música a faz aparecer, outras vezes é um cheiro, a única coisa que eu sei é que ela sempre irá me visitar, eu querendo ou não, como se eu estivesse ligado à ela de alguma forma. Gostaria de saber se eu apareço também pra ela dessa forma, mas acho que não, no fim eu sei que eu não sou para ela o que ela é para mim.