Sinto não poder levar o mal comigo.

Arrumava tudo pra fazer essa viagem. Animada. Eufórica. Comprou mala que não tinha. Comprou bota que não tinha. Foi qndo arrumando a mala c um mês de antecedência pensou que não comprou casaco, pois ganhara.

O casaco azul, marcado pelas fotos e lembranças de mantê-la aquecida na primeira viagem que fizera p um lugar frio. Foi a primeira viagem dela, primeira viagem nossa...ou deles...do que eles foram.

Ela pegava o casaco e se impressionava c o aspecto de novo de um casaco de pouco mais de 7 anos...

Deixou a distração saudosa de lado ...esse saudosismo nunca a abandonava. Era daquelas que tinha saudades desde os 5 anos de idade...como alguém pode ter saudades aos 5 anos, se praticamente nem passado tem.

Deixou quase tudo pronto, estendeu o casaco sobre o sofá...e saiu.

Entrou apressada na farmácia, comprou o que precisava e uns chocolates que estavam a vista...pegava o cartão de crédito quando seu telefone começou a tocar ...

Passado um ano e poucos meses ...o único contato que teve foi nos meses iniciais...quando por 6/ 7 vezes olhou o perfil dele em uma rede social ...

Atendeu sem o menor jeito e por isso só disse:

- alô?

- Oi. Aqui é o Sidrack. Sei que vai soar estranho,mas preciso falar com vc.

Ela reconheceu essa frase...."preciso falar com vc"

-ok. Foi tudo que conseguiu dizer.

- A gente pode almoçar?

-Sim. Quando ?

-Hoje. Onde vc tá, posso passar e te pegar.

- Hoje?

- Sim, se vc puder, claro.

- Posso. Onde?

- No Shopping.

- Qual?

- Aquele.

- ok. Olhou o visor do celular, eram 11:33.

- Te vejo 12h?

- Certo.

Enquanto falava passou o cartão e guardou seus chocolates e protetor solar.

Entrou no carro, jogou a bolsa e a sacola no banco do passageiro e saiu devagar.

Chegou ao shopping e o avistou com facilidade. Continuava bonito, com bom gosto para roupas, mas tinha um ar cansado, o rosto de todo parecia mais velho. Não um ano e seis meses mais velho, apenas mais velho.

Estendeu o braço e ofertou a mão para um cumprimento formal. Apertaram-se as mãos como quando se acaba de fechar um negócio.

Sentou.

Ele a olhava um pouco aturdido....seu rosto tinha uma confusão genuína de quem não sabe como dar uma notícia ruim.

Então ela disse:

- Tá tudo bem? Vc tá bem?

- Sim. Sim. Tudo bem.

- Então o que é?

- ... Falou. Simplesmente falou...como se suas palavras dissessem coisas simples.

Quando ele parou de falar ela não sabia ao certo que palavras escolher para responder-lhe..

Esse tempo todo ele foi bom, ela era o mal, má. Ele não ter pedido p voltar esse tempo todo foi o que construiu a maldade das ações dela . O pedido, por muito tempo que ela achava que seria a volta da sua felicidade, o amor de almas, o que jamais se repetiria, se materializou de um jeito inesperado. E ela ficou ali vendo que ele era msm igual, e foi até um tanto triste constatar que ela não era o mal. Riu c o canto da boca, abriu os braços e ofertou o fim que ele não deu a ela, o fim sem culpa. Quando saiu do seu abraço deu redenção TB p si e viu as lágrimas silenciosas correrem pela face. Sentiu, e sente. Eu sinto muito, sinto não poder levar o mal comigo.

Évora Solitu
Enviado por Évora Solitu em 18/08/2022
Código do texto: T7585343
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