EMPATIA - dedicado aos amigos recantistas 

 

Ah! Que presença especial, tinha Belle Luna, na pequena cidade onde morava. O nome do lugar era estranho e, em nada combinava com o povo pacato, afetivo e trabalhador, se chamava Vila dos Arroubos...rsss......................arroubos certamente, não definia aquele lugarejo. Instalado num vale verde e florido, poucas casas e comércios, uma pequena sede para a Prefeitura, gerida pela Dona Roberta Juli, paróquia, um consultório médico com os afetivos Doutor Olavo e a enfermeira Verdana, sempre a postos, uma escolinha e um laguinho acolhedor. Tudo por ali era calmo, todos se conheciam e partilhavam a vida, exceto por dois velhinhos cabeçudos, teimosos e sisudos, Moacir  e Antonio, que depois de viúvos e sem filhos, dividiam um sitiozinho, mas, como eram rannhetas aqueles dois, de tudo reclamavam, embora nunca tratassem ninguém de forma grosseira, só coisinhas bobas por causa da idade solitária. Mas, eram queridos por todos, que habilmente lidavam com a situação. Sempre recebiam visitas, para saber precisavam de alguma ajuda ou só pra puxar um dedinho de prosa. Reclamavam, aceitavam a ajuda e também, a companhia.

 

Vila dos Arroubos, não poderia ser considerada, uma cidadezinha do interior, pois a cidade grande por assim dizer, ficava há cinco quilômetros de lá. A Vila era com um pulmão verde de serenidade e flor, que sobrevivia ao galopante progresso. Quando chegava a Primavera, ficava tão florida e colorida, atraía alguns turistas e, o povo aproveitava pra ganhar, um dinheirinho a mais, abrindo as casas para uma pousada, refeições e vender frutas e legumes orgânicos, alguns bolos e doces, sem falar nas lembrancinhas. Quadros pequenos, com moldura de palha trançadas, feitos pelo artista local, o Mestre Ansilgus, que era um talento a parte, pintava, era poeta e, para delírio dos mais jovens, confecionava pipas ou cafifas incríveis, super estilosas e coloridas.

 

Vocês devem estar pensando agora, onde raios esta narrativa, entra Belle Luna? Já explico...sem complicar. 

 

Ninguém neste mundo, era capaz de mensurar a empatia, que transbordava aos borbotões, daquela mocinha adorável. Era como um farol, que iluminava a todos, com seu sorriso doce e simpático, sua voz melodiosa e, com seus olhinhos cor de mel, cativava até o ser mais frio. A Primavera, era sempre movimentada por lá, então, quem melhor para recepcionar os turistas, senão ela...puro encanto, ela era a personificação da Vila dos Arroubos. Mostrava cada cantinho da cidade, todos os lugares onde poderiam pousar, as belezas da natureza, o quê e onde, poderiam comprar e principalmente, tinha o dom e a paciência de saber ouvir, pois para muita gente, um instante sincero de atenção era tudo. Belle Luna era a definição perfeita, da palavra empatia.

 

Vila dos Arroubos estava radiante, mais uma semana e, os turistas começariam a chegar. O Mestre Ansilgus estava trançando muita palha, até contou com a ajuda dos sisudos, Moacir e Antonio, que não tinham muito jeito com turistas rssss...mas, o licor de genipapo que produziam, era bem apreciado por quem passava por lá e, um cascalhinho a mais no bolso, não faz mal a ninguém, não é mesmo?

 

As casas estavam sendo arrumadas, almofadas e travesseiros afofados, tudo tinha que estar confortável, limpo e arejado. Quase todo mundo, tinha um quarto extra, para que pudessem hospedar as pessoas por uma ou duas noites, as cozinhas já adiantavam temperos, doces e pimentas em compotas sendo preparados. Todos se ajudavam, cantavam e riam. Os filhos mais velhos olhavam os mais novos, o Padre Solano circulava, auxiliando em tudo que podia, sempre com uma boa palavra e, também arregaçando as mangas, quando se fazia necessário, um bom homem aquele jovem pároco.

 

A área verde em torno do laguinho, ganhava mesinhas com cadeiras reclináveis e algumas tendas brancas, com grandes almofadas, deixava o ambiente aconchegante para um descanso, piquenique ou só para andar pela beira do lago. Quem chegava, ficava encantado, quando via de longe, o verde, as flores multicoloridas, as tendas brancas e, o espelho de águas cristalinas, era mesmo de encher os olhos. O povo simpático e receptivo, aliados à presença cativante de Belle Luna, tornavam a Primavera da Vila dos Arroubos, um oásis de felicidade e, a injeção financeira que entrava no lugar, proporcionava um seguro para o Inverno que era um pouco rigoroso por lá. 

 

Primavera e Outono, eram as estações preferidas e, antes que o Inverno chegasse, eles se organizavam e faziam uma grande festa, em frente à paróquia, com quermesse, palhaço, contadores de histórias, Mestre Ansilgus declamando poesias, Belle Luna e a Prefeita Roberta Juli cantando e, todo mundo dançava, de qualquer maneira, cada um do seu jeitinho particular...às vezes...bem peculiar...engraçado mesmo, quem tiver a chance de participar, irá de concordar rsss...tudo era pura alegria. O importante era celebrar, em comunhão. Às dezoito horas tinha missa, num ambiente cheio de fé e gratidão.

 

Vila dos Arroubos, afinal tinha realmente os seus 'arroubos' só que...de FELICIDADE.

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 11/09/2022
Reeditado em 12/09/2022
Código do texto: T7603718
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