A gota de sangue

O carcereiro tirou o cigarro da boca e abriu um sorriso feroz ao ver Roberta Doyle.

- O que é você, afinal? - Indagou.

- Até onde me lembro, ainda sou uma mulher - replicou ela em tom de desafio.

- Se não entendeu, vou explicar melhor - prosseguiu o carcereiro. - Aqui é Nova Orleãs, e esta é uma prisão segregada: temos uma ala para mulheres brancas, e outra para mulheres negras. Como você se classifica?

Roberta pôs as mãos nas cadeiras e encarou o carcereiro.

- Da parte da família do meu pai, tenho sangue irlandês; pela materna, sangue espanhol. Acho que isso me coloca na ala negra, não é?

- Você me parece bem branca para mim - avaliou o carcereiro. - Sabe, as brancas têm... privilégios.

Roberta olhou para o teto, antes de replicar:

- Não estou interessada; me mande para a ala das negras.

- Pode ser que lhe estranhem lá dentro - advertiu o carcereiro.

Roberta franziu os lábios.

- Agora que comentou, lembrei que tenho uma gota de sangue negro nas veias; não sei se pelo lado espanhol ou pelo irlandês. Não se preocupe, vou estar em casa.

As colegas de cela de Roberta deram gargalhadas ao ouvir a história. E, de fato, ela foi acolhida como uma mulher oprimida pelas demais. O que, de fato, ela era.

- [11-09-2022]