O Diamante

Era uma pequena cidade do interior bem distante da capital, quase uma vila. Contava na época quase seis mil habitantes.

Estava emancipada há pouco mais de trinta anos.

Corria o ano de 1957.

Como em todos os lugares havia a divisão dos poucos que possuíam fortuna e os que apenas sobreviviam trabalhando para os endinheirados.

A vida era difícil para quem tinha que trabalhar duro nas fazendas ou na única indústria da cidade.

Os filhos das famílias abastadas iam estudar na capital, os filhos dos pobres nem tinham a oportunidade de estudar além da alfabetização pois o ensino era muito precário por ali.

Muitos jovens se revoltavam com a falta de perspectiva diante da vida limitada que levavam. Outros se conformavam e seguiam as suas vidas. Nasciam, cresciam, trabalhavam, casavam, tinham seus filhos e o ciclo se repetia.

Por essa época três irmãos trabalhavam para um latifundiário. Era uma trabalho duro e cansativo. Trabalhavam de sol a sol. Pele queimada e maltratada pelo sol escaldante, mãos calejadas e corpo sempre cansado. Apesar de terem vinte e poucos anos aparentavam mais. Sentiam que estavam envelhecendo antes do tempo. Por mais que trabalhassem não tinham nada. Apenas o suficiente pra sobreviver. E eles não se conformavam. Viam os filhos do patrão chegando para as férias e pensavam que aquela boa vida que tinham vinha também do trabalho pesado que eles faziam enriquecendo ainda mais o patrão.

Há uns três anos eles tinham ouvido falar sobre a ocorrência de diamantes na região. Procuraram saber tudo sobre o garimpo. Nas poucas horas de folga eles se aventuravam procurando diamantes. Pensavam que se a sorte lhes sorrisse eles poderiam enriquecer e quem sabe até se tornar patrões.

Dia após dia eles trabalhavam, sonhavam e garimpavam. Mas a sorte não dava as caras.

Naquele domingo eles estavam garimpando e sonhando em achar as pedras que mudariam suas vidas. Quando já estavam indo embora um dos irmãos encontrou uma grande pedra. Não acreditou que poderia ser um diamante e chamou os outros.

Eles ficaram na dúvida e levaram a pedra consigo.

Por muitos dias eles namoravam a pedra e duvidavam que pudesse haver um diamante tão grande. Por certo era só um cristal. Afinal nunca tiveram sorte na vida. Será de repente aquele diamante gigante caiu em suas mãos?

Discretamente procuraram saber se a pedra tinha valor ou não. Conheciam pessoas de confiança nas cidades vizinhas. Tinham medo de estar com um diamante tão grande e perdê-lo por descuido. Depois de algum tempo e muita cautela, descobriram que estavam com uma fortuna nas mãos.

Apesar do pouco estudo que tinham, eram inteligentes, espertos e aprenderam muito com a vida. Não era fácil enganá-los.

Em sigilo eles procuraram a melhor oferta pelo diamante, sempre evitando atravessadores.

Como a sorte estava do lado deles, conseguiram uma boa oferta de uma pessoa séria e embora não tenham recebido o que o diamante realmente valia ainda receberam por ele uma fortuna. Foi o melhor negócio que puderam fazer devido às suas limitações.

Nunca imaginaram que um dia pudessem ter tanto dinheiro. Na verdade nem tinham a noção exata do que valia aquele montante.

Resolveram que mudariam de cidade.

Planejaram tudo e numa noite juntaram apenas que necessitavam para sobreviver por alguns dias e juntamente com seus pais saíram da cidade sem deixar pistas ou notícias.

E os boatos corriam. Como nada fica em segredo alguns já sabiam da história do diamante e todos comentavam que tinham enriquecido e partido para outro lugar, alguns diziam até que tinham ido para a capital.

Numa cidade um pouco distante dali, bem maior, compraram uma bela casa, lindos móveis, automóvel e viviam como ricos. Vestiam-se bem e gostavam de se mostrar.

Gastavam sem medida e nem pensavam em trabalhar ou montar algum negócio e fazer seu dinheiro render mais.

O gerente do banco sempre lhes advertia que precisavam pensar no futuro, mas eles só pensavam em viver bem.

Por alguns anos viveram sem trabalhar e esbanjando dinheiro como se aquela fortuna nunca fosse acabar.

Viviam em festas e davam festas em sua casa sem pensar nos gastos.

Por fim o dinheiro começou a ficar escasso. Eles pensaram que precisavam trabalhar. Como não tinham qualificação, só encontravam trabalho pesado e com salário baixo. Eles não queria se sujeitar a trabalhos pesados pois viviam ali como ricos.

Chegou o dia que não tinham mais dinheiro nem para as despesas da casa.

Dispensaram os empregados e mesmo assim estavam passando aperto.

Resolveram vender a casa e voltar para a sua cidade.

Chegando lá, a casa onde moravam estava muito deteriorada. Fizeram as reformas necessárias, compraram móveis modestos e voltaram a trabalhar para fazendeiros da região e guardaram no banco o que lhes restou para as emergências.

Como veio, a fortuna se foi.

O sonho de riqueza fácil se transformou em pesadelo. Pensaram que o dinheiro não acabaria nunca e não se preocuparam em poupar e fazer o dinheiro se multiplicar.

Aprenderam muito tarde que dinheiro não dura pra sempre se não houver trabalho e zelo com ele.

Muitas vezes eles pensavam que deviam ter sido mais prudentes, mas também se alegravam por ter vivido como ricos por alguns anos. Conheceram o outro lado da vida e viveram com conforto, fartura e vida mansa.

Sempre as pessoas viam os três irmãos garimpando. E eles conversavam entre si e com os diamantes que porventura estivessem escondidos ali. Pediam que viessem pra suas mãos. Diziam que se tivessem novamente a sorte de encontrar um diamante seriam mais prudentes e lidariam melhor com o dinheiro.

Os diamantes cada vez mais se escasseavam e eles nunca mais foram brindados pela sorte.

Continuavam a levar sua vida de trabalho pesado e dinheiro curto.

Ficou como lição que as oportunidades não voltam e que é preciso dar valor e saber o valor do que se tem. “Mas de que adianta aprender a lição agora?”, pensavam.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 10/10/2022
Reeditado em 10/10/2022
Código do texto: T7624684
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.