AMOR À PRIMEIRA VISTA!

É indiscutível. As filas dos bancos são verdadeiros massacres para os seus usuários. Protesto! Precisamos tomar alguma providência!

Outro dia! Só de gozação e birra, marquei o tempo e fiquei fazendo alguns paralelos do que poderia acontecer naquele espaço de tempo.

Assistir uma partida de futebol inteira. O tempo que ficamos na fila dá e ainda sobra para xingar o juiz, comer um cachorro, tragar uma gelada e trocar o pneu do carro quase sempre vazio na saída. Tudo na maior maciota e ainda seria barbada.

Ir a banco, pra mim sempre foi traumático. Deixei de ir ao banco já tinha mais de dois anos. Quando cheguei parecia o homem das cavernas a perguntar coisas, tais como passar o cartão etc. Só identifiquei o mico pela cara de espanto que fez a moça do “posso ajudar”.

Mas, surgiu a necessidade. Minha esposa viajando (mãe doente terminal) e os meninos na faculdade e o “veio” abandonado não tinha a quem delegar. Tive que ir. E vou logo confessando o atleta aqui que não entrava em campo há tempos, sentiu o volume do jogo.

Sem exageros o tempo daria para ir a São Paulo na terra de Ivone Carvalho, passar por Tesouro de Claraluna, Sobrevoar Milla Pereira, dá umas voltas em Belo Horizonte de Mira Ira e Vestidadeágua, passadinha em Salvador de Maria Luiza Prieto, tomar um banho nas praias de Natal de Evelyne Furtado, pegar a reta de Mossoró de Ângela Rodrigues e Raí. Desembarcar em Olinda, comer uma agulha Frita no Samburá e ainda ir para casa andando.

Tudo aconteceu naquela fila do Banco. Primeiro! Enchi-me de esperança a fila andou rápido. Empacou. Andou. Empacou. O sistema saiu do ar. Voltou. Enquanto que assistíamos um discurso inflamado de um da fila:

- Que absurdo! Isto é uma falta de respeito. Bom era uma denúncia.

Um pequeno rebuliço de insatisfação e é nessa hora que o fura fila age.

Identifico um sorriso de vitorioso em alguém que saiu do caixa com o seu dinheirinho mesmo a menor por causa da CPMF. Reflito o quanto do povo brasileiro é resignado, ordeiro e pacífico.

Novo tumulto. Um fura fila, não! Uma fura fila.

- Mulher! Esse mundo está perdido. Alguém falou!

- Onde já se viu? Emendou outro.

- O rapaz estava na frente eu vi, sou testemunha. Disse o do discurso.

Começou o desentendimento, a moça agora segura a camisa do rapaz, aos puxões, estou vendo. Mas escuto diferente.

- Me solta rapaz! Me respeita sou mulher!

Escuto som da pancada de uma bandeja de servir café na cabeça do rapaz. A fura fila agora segura a camisa do coitado e lhe evita uma queda maior no semi-desmaiado. Já no solo com a mão na cabeça e cara de zangado. A fura fila lhe socorre e sem demora toma-lhe nos braços e aplica-lhe um longo beijo.

- O que foi que fiz? Diz tonto e sem respirar, O rapaz. Polícia! Socorro!

- Eu sou a polícia, rapaz. Calma! Diz a moça. Exibindo a carteira.

- Que aconteceu comigo?

- Amor à primeira vista. Logo que lhe vi lhe amei. Tinha que acontecer algo conosco.

- Meio incrédulo o rapaz fez postura de galã.

Um segundo beijo selou a paz. Todos aplaudiram como é comum na confusão o reconhecimento dum carinho em contraste. O povo é assim o que vale é o último momento. Afinal “deu namoro”.

Tudo ficou mais calmo, mesmo. Recebi meu dinheirinho a menor também. Dei o meu sorriso de vitorioso. Fui pra casa. Andando pela praia para esticar as pernas estava um poente lindo, daqueles que compensa qualquer coisa.

-Fia está com saudade de casa. Resmunguei.

Crontei.

Depois eu cronto mais!

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 04/12/2007
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