Rita e o Vô Gildo

Ela se aproximou e sentou em meu colo, na rede.

Ficou nos balançando, em silêncio, embora eu soubesse que algo logo seria dito. Fiquei fazendo cafuné em sua cabecinha linda, só esperando o resultado daquela expressão pensativa.

Silêncio.

- Eu não conheço meu Vô Gildo né?

- Não, Rita. Quando você nasceu ele já tinha morrido.

- Mas eu conheço ele de fotografia!

- É...

- Mãe, meu Vô Gildo sabia fazer churrasco?

- Claro! O vô era gaúcho. Todo gaúcho faz churrasco.

- Mãe?

- Diz...

- Se meu vô fosse vivo, ele ia fazer churrasco pra mim?

- Claro que ia.

- Meu vô ia me adorar!

Segue novo silêncio.

- Mãe?

- Que é?

- Meu vô tá no céu?

- Tá...

- Quando eu morrer e for pro céu, eu vou encontrar com ele lá?

- Claro que vai. Lá no céu, todos nós nos encontraremos!

- Mãe e será que meu vô vai fazer churrasco pra mim lá no céu?

- Claro que vai, meu amor! Lá no céu é festa todo dia! Seu avô iria fazer muitos churrascos pra você... (palavras ditas em meio a beijos e abraços e cheiros)

- Mas mãe, pra ir pro céu eu tenho de morrer. E eu não quero morrer agora. Eu quero morrer beeeeem velhinha, igual a Vó Landa!

(Foram respeitadas as formas de expressão da Rita.)

Margot Jung
Enviado por Margot Jung em 04/12/2007
Reeditado em 13/02/2008
Código do texto: T764213