Espinha de peixe

Embora a cidade colonial de Ouro Preto, tivesse pastos verdes demarcados por cercas vivas que cobriam a serra como uma colcha de retalhos, lentamente o sol é coberto pelas nuvens negras e carregadas. Um rapaz caminha exausto pela rua calcetadas, íngremes e sinuosas. Seus olhos esmeralda treinados refletiam, logo, a frente, uma pequena placa de madeira pendurado acima da porta: restaurante de ouro.

Após, entrar e escolher a única mesa disponível, ele tirou o chapéu de palha e colocou sobre a mesa enquanto esperava a garçonete vim atendê-lo. Silencio pairava no ar com um clima de tensão. Todas as pessoas que estão ali dentro bebendo ou almoçando o reconhecem de imediato: suas roupas simples de caipira, a fisionomia magra, cabelo crespo preto e pele parda.

— Uai homens, vejam quem acabou de chegar, é o Benedito… — disse um dos três homens barbudos em que está sentado na mesa logo a frente dele. — o famoso espinha de peixe.

O que era um ambiente silencioso de pessoas bebendo e almoçando, agora se tornou um ambiente tomado por muitas gargalhadas. Benedito, no que lhe concerne, parecia se encolher na cadeira sentindo vergonha. Já faz mais de cinco meses, desde que acabou ganhando esse apelido 'espinha de peixe' no dia que ganhou seu presente de aniversário, onde havia completado dezesseis anos.

Todos os que completam dezesseis anos, almejam construir seus próprios passos ou seguir aos passos de seus pais, que podem se alistar na Guilda de Mineração para conseguirem seu primeiro trabalho garimpando nas entranhas da caverna e maldita. Mas para poder trabalhar, deve-se fazer um teste de aptidão: conseguir empunhar as ferramentas lendárias de garimpo. Após inúmeras tentativas, Benedito não conseguiu passar no teste, onde virou motivo de chacota na cidade que vive.

A garçonete que sai da cozinha, levando uma bandeja de comidas típicas da região até a mesa de uma família que está ao lado dele. Assim que acabou de servir, a garçonete virou-se e foi na direção dele, balançando de forma suave, seu cabelo cacheado preto, pegando seu bloquinho de anotações do bolso do avental.

— O que vai querer hoje, espinha de peixe? — disse com doçura a garçonete.

— Vou querer o de sempre, Feijão Torpe... digo, Feijão Tropeiro.

— Hum… Às vezes é bom comer algo de diferente sábia… Todas às vezes que vem aqui, só sabe pedir isso.

— Eu só preciso de feijão para ser forte…

— Vai querer beber alguma coisa?

— Só Feijão Tropeiro.

— Ok. Mas só para avisar, você não pagou a refeição da semana passada, vou cobrar o dobro hoje... viu

— Beleza.

— Uai, estou falando sério... se você não pagar, vai lavar prato a semana toda seu caloteiro e picareta safado.

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