Dançando na sombra do medo

Paulina passava gelo pelo corpo para desfazer os hematomas deixados pelo ex-companheiro quando recebeu ligação informando que o mesmo estava hospitalizado em razão do capotamento de seu veículo durante perseguição policial, e seu caso era grave. Foi alguém da vizinhança que avisou a polícia das agressões e pedidos de socorro. E não era a primeira vez.

O gelo agora fazia outro efeito: consolador, anestésico, quente.

E Paulina torceu para que o ex não sobrevivesse. Sem nenhum remorso. Afinal, não foi ela quem chamou a polícia. Compaixão? Do quê? Por quê?

Sentou-se à sombra da laranjeira ainda aplicando compressa de gelo, principalmente nos braços, e até ensaiou uns passos de dança e alguns sussurros à espanhola: Urra! Olé!

E vieram as dúvidas: - E se ele sobrevivesse? E se voltasse?

Os hematomas ganharam vida e a sombra do medo pousou em seu olhar.