Tenho um santo protetor

Na verdade, são três.

Quando nasci, num agosto qualquer, na fazenda, fui dada afilhada para os donos da mesma.

Registro aqui: Ladário e Geralda.

Com esse feito, no dia do batizado ganhei de presente uma porca, que veio já prenhe. Que no novembro seguinte pariu sete porquinhos.

Antes disso, no terceiro dia da minha vida levei algumas varadas do meu irmão mais velho.

Mamãe sempre mantinha a porta do quarto fechada num trinco no alto do portal; meu irmão pegou uma vassoura e futucou o trinco até se soltar, de posse de uma pequena vara, me deu umas lambadas; sorte a minha porque poderia ter apanhado com a vassoura. (risos)

Nem foi descuido da mamãe, foi esperteza do meu irmão mesmo, foi dorzinha de cotovelo.

Com esse acontecido, passei a “beber o fôlego”, era assim que mamãe dizia. Não podia chorar que já me perdia sem ar e começava a ficar arroxeada.

Mamãe contava que quando eu começava a chorar, meu tio Antônio, saía correndo comigo nos braços feito um louco pelos pastos e quintais para eu poder tomar ar. Isso aconteceu inúmeras vezes.

Mamãe já não aguentava mais essa situação, de me tratar feito um bibelô para não chorar; então teve uma ideia de fé.

Daria o melhor porquinho da minha porca para a festa de Santo Reis, não para a que aconteceria em 6 de janeiro do ano seguinte, ainda estaria muito pequeno, mas para a engorda da próxima festa.

Fez suas orações juntamente com essa promessa; como já disse anteriormente, os sete porquinhos chegaram perfeitos.

Perto da visita dos foliões, aconteceu o inacreditável. Não se sabe ao certo o que houve: todos os porquinhos morreram.

Mamãe desesperada com esse fato; não pensou duas vezes, queria mesmo era cumprir a promessa que fizera; resolveu e deu a minha porca.

Ela conta que nunca mais bebi o fôlego e desde então tenho três santos protetores, Baltazar rei da Arábia, Gaspar rei da Índia e Melchior rei da Pérsia, os bem-aventurados. Amém!

Raquel Ordones