A MUDA MORREU

Essa é uma história que precisa ser contada, porque a muda sem dizer uma palavra falou aos corações de adultos e crianças da vizinhança, com seu sorriso, seus gestos e acenos, enfim, muito gente boa.

A gente nunca sabe quando vai ser o último adeus, então, a morte da muda me surpreendeu, mas deixa eu contar a história direito.

Bem, outro dia, a neta da muda fez aniversário e convidou as meninas da vizinhança para a festa. Uma das convidadas, filha de outra vizinha foi à festa, mas a mãe dela não. A mãe dessa menina foi à uma reunião com esta que vos escreve, pois bem, ao final da reunião, passamos em frente à casa da muda , haviam algumas meninas à porta, quando do meio delas ouvimos a filha da minha vizinha, que estava comigo, gritando:

--Mãe! A muda perguntou por você!

A mãe nessa hora corrigiu:

-- Fale baixo, menina! Olha como você está falando!

A menina continuou como se nem tivesse ouvido a bronca:

-- Mas é a muda! A muda lhe chamou pra vir comer bolo! A muda quer lhe ver.

Percebendo que deveria consertar, afinal, não se tratava de uma pessoa anônima, mas de alguém com nome, que não deveria ser tratada apenas por sua característica de poder falar, e considerando a ingenuidade da menina, ela rumou para a festa e eu segui meu caminho para minha casa.

Dias depois, passei e lá estava a muda conversando com alguém, por incrível que pareça, a capacidade de se comunicar dela é algo que muitas pessoas verbais não conseguem ter.

Continuando, depois que passei por ela, horas depois me encontrei com a outra vizinha, aquela do episódio do aniversário, foi então, que ela me disse com ar de tristeza:

-- Claudia, você não sabe, a muda morreu.

De susto, encostei numa parede e exclamei numa interrogação:

--A muda morreu! ? Mas eu passei por ela nesse instante!

A bendita vizinha, então, me pergunta:

--De que muda você está falando, Claudia?

--Da muda, avó da menina do aniversário, não é dela que você está dizendo? -- perguntei.

-- Oxe, Claudia! Estou falando da muda da planta que você me deu, eu queria tanto, mas acho que o sol estava muito quente, ela não aguentou .

Começamos a rir muito do equívoco e eu, de aliviada, porque a muda continua viva. Só que eu nem lembrava que havia lhe dado uma muda da planta zamioculca que ela queria muito.

Enfim, a riqueza da Língua Portuguesa causando bagunça na comunicação, contudo, uma coisa fica bem clara, a gente nunca sabe quando vai ser o último adeus, por isso é bom valorizar cada encontro e cada despedida, de modo que deixemos ou tenhamos uma última boa memória das pessoas com quem convivemos.

P.S.: Todas as pessoas devem ser tratadas por seus nomes e não adjetivadas por suas limitações. A história acima foi contada no contexto da simplicidade de uma criança, e não se faz um hábito desta que vos escreve não tratar as pessoas por seus nomes. :)