ONDE ESTA MEU BEBE

Diná caminhava por aquela rua de São Paulo com muitas lojas e um grande número de pessoas que passavam em todas as direções, era época de Natal.

Carregava no Braço sua filha de seis meses e em outro uma sacola com várias latas de leite em pó, que acabara de ganhar de uma instituição de caridade.

Atordoada por aquele movimento de gente e com o coração apertado pensando nas outras crianças, caminha lentamente, vez ou outra se esbarra em alguém e quase se desequilibra.

Diná não comeu nada hoje, se sente fraca, a criança e a sacola estavam muito pesadas.

De repente uma senhora, muito gentil, se aproxima e brinca com sua bebe:

— Que criança lida! Como chama? Quanto tempo tem?

— Laura, tem seis meses.

— Para onde você vai?

— Vou pegar o ônibus lá na frente, disse Diná.

— Vou para o mesmo lugar, posso te ajudar, me dê a Laurinha que levo para você, disse aquela simpática senhora.

Diná, aliviada e agradecida pela ajuda, entrega a criança nos braços da desconhecida. Caminham mais alguns minutos e sem que a pobre mãe percebe a desconhecida se mistura no meio da multidão e desaparece.

Diná olha para os lados a procura da mulher com sua filha e não encontra. Para no meio da multidão, coloca a mão na cabeça e se desespera.

Empurra as pessoas e grita pelo nome da filha, anda em círculo e olha a sua volta e não acredita que a mulher possa ter ido tão longe em poucos segundos.

Depois de alguns minutos ela percebe o que aconteceu! Joga a sacola de leite no chão, grita por ajuda.

— Alguém me ajuda pelo amor de Deus, roubaram minha filha!

Me ajudem, uma mulher roubou meu bebe!

As pessoas que passavam, olhavam para ela como se ela fosse uma louca e ninguém lhe deu atenção.

Aos gritos e em lágrimas, sozinha, entrou em lojas e caminhou até o terminal de ônibus onde a mulher disse que iria, mas infelizmente não a encontrou.

Sentou se no chão, chorando e soluçando, sem saber o que fazer, nem a quem procurar, até que um rapaz bem-vestido se aproximou dela e perguntou se ela precisava de dinheiro para pegar o ônibus, então ela contou o que tinha ocorrido.

O rapaz era um estudante de direito, explicou que ela deveria procurar uma delegacia e fazer o registro de desaparecido e as características da mulher que levou sua filha.

Percebendo que a mulher estava muito abatida e sozinha, o rapaz aconselhou que fosse para casa, se acalmasse e no dia seguinte se encaminhasse a delegacia com algum parente.

Deu lhe dinheiro para a condução, então Diná voltou para casa com as mãos vazias e coração cheio de dor.

A vida de Diná era dura, mas depois que chegou em São Paulo tudo piorou.

Casada com Elias, homem de 42 anos que acabara de falecer de infarto, era um trabalhador rural que veio do interior do Paraná, cinco filhos a procura de uma vida melhor.

Sem dinheiro pra voltar para sua terra natal, sem parentes ou amigos nesta cidade grande, Diná fica sozinha em um quarto e cozinha com aquelas crianças e ainda um bebe de seis meses.

Como fazer para gerar sustento para eles? O filho mais velho tinha apenas 13 anos!

Eram todos tão acanhados, e não conhecia ninguém.

As crianças não brincavam, eram assustados. Viviam sempre agarrados na saia de sua mãe.

Uma vizinha percebeu a necessidade daquelas crianças e sentiu compaixão, mas como não possuía poderes financeiros para ajuda-los, avisou a comunidade de uma igreja que costuma dar mantimentos e roupas aos pobres, que prontamente vieram em socorro daquela família.

Por isso conseguiu aquela doação de leite para a pequena, então foi buscar e agora acontece isso!

Mais uma tristeza abete aquelas crianças, depois da morte do pai.

Diná vai a várias delegacias fazer o registro de desaparecimento da bebe.

Muito abalada, depois de ver várias fotos de mulheres raptoras de crianças e fazer o retrato falado da bandida, o que ela ouve e do próprio delegado é desesperador

— Senhora, é muito difícil encontrar um bebe, talvez impossível!

A partir daquele dia, Diná passa seus dias andando pelas ruas olhando o rosto de cada mulher e cada criança que vê.

Dia sim, dia não vai a delegacia perguntar ao delegado se tem alguma notícia da filha, sempre com a resposta negativa.

Trabalha de faxineira, sempre calada e olhar triste.

Os anos vão passando, e seu filho mais velho Ricardo, agora com 16 anos arruma um emprego de office boy e pode ajudar com as despesas de casa.

A segunda Filha Marta, uma menina de 13 anos, muito bonita, mas pouco desenvolvida para a idade, fazia todo serviço de casa enquanto a mãe trabalhava alguns dias de faxineira, ela cuidava de mais dois irmãos um de 8 e outro de 5 anos.

O trabalho de Diná não era suficiente para sustentar aquelas crianças e pagar aluguel, então viviam com muito pouco. Ela chorava todos os dias pela filha desaparecida, e perambulava pelas ruas da capital na esperança de encontrar a criança.

Diná não comia direito, deixava a comida para as crianças, pois, dizia que eles precisavam mais do que ela.

Vivendo com a mente perturbada e o coração partido, por ser viúva e ainda se sentia culpada pelo sumiço da bebe, não prestou a atenção na sua filha Marta que as vezes ficava abatida, pálida e sem forças. A menina não queria preocupar sua mãe, por isso nunca disse nada sobre seus sintomas.

Em uma tarde, quando Marta acabou de sair do banho, teve um desmaio. Dona Dina, esfregou seu pulso com alho, deu vinagre para cheira, abanou, e nada da menina voltar.

Diná começou a chorar, pois não sabia o que fazer. Enquanto isso o filho de 8 anos correu e chamou a vizinha, que ao chegar notou a palidez da jovem e pressentiu o pior. Chamou logo a ambulância.

A menina foi socorrida, hospitalizada, e diagnosticada com problema cardíaco grave.

Marta foi medicada e voltou para casa, ainda muito debilitada. Diná, com olhar perdido, abraça a filha e não diz palavra alguma.

Dias se passam e Diná não sai mais para trabalhar, fica cuidando dos filhos e lentamente sua esperança de sustentar a família de esvai.

As crianças pedem pão, e começa a faltar tudo.

O filho mais velho traz o seu pequeno salário que consegue comprar comida para alguns dias.

Em uma noite Marta chama a mãe e pede água, antes que Diná pegue a água a jovem segura forte sua mão e desfalece.

Marta se foi.

Diná não pode acreditar,

— Acorda filha, vou pegar água para você!

Percebendo que a filha não reage, ela se desespera, e aos gritos acorda os vizinhos.

Mais um duro golpe que a vida dá aquela família.

Depois do enterro da Marta tudo ficou diferente. Seus filhos de seis, oito e dezesseis anos, ficam praticamente abandonados. Diná sai diariamente a procura de trabalho e fica vagando pelas ruas da cidade.

Ocasionalmente conseguia uma faxina ou outra, mas nunca tinha hora para voltar.

Seu filho Ricardo e quem se preocupa com os irmãos pequenos. Percebendo que sua mãe não anda muito boa das ideias, pediu para uma senhora da igreja se podia tomar conta das crianças.

O tempo foi passando e Diná trazia o dinheiro das faxinas e entregava nas mãos do filho Ricardo.

Ela era uma boa mãe, mas sua cabeça não era mais a mesma.

Um dia, Diná saiu cedo para o trabalho e nunca mais voltou.

Seus filhos cresceram praticamente sozinhos, com um sentimento enorme de perda.

Por toda vida procuraram a mãe e a irmã, mas nunca tiveram noticia alguma

Aut: miriam rufino

miriam rufino
Enviado por miriam rufino em 09/02/2023
Reeditado em 09/02/2023
Código do texto: T7715602
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