Vidas Breves IV

Ela havia chegado ao Rio de Janeiro com um sonho. Deixara para trás sua casa, sua família, seus amigos e seu emprego como boia fria. Queria ser alguém na vida, uma pessoa que fosse lembrada, alguém com dignidade.

Cinco anos depois de sua chegada estava desempregada e com um filho que consumia todo o dinheiro que ela conseguisse, pois havia nascido com uma doença grave que necessitava de cuidados especiais.

Quando começou a se prostituir mal conseguia suportar o odor de álcool e o suor misturado com poeira que aqueles homens insistiam em oferecê-la. Algumas vezes chegou a vomitar depois das transas rápidas e frequentes que era obrigada a participar para levar os remédios do filho pra casa. Sua mente estava cansada com aquilo tudo e ela pedia a Deus por descanso. Apesar de tudo, se mantinha fiel às crenças que lhe haviam sido passadas por sua mãe durante toda a infância.

Queria agora nunca ter saido de sua terra e de seu trabalho como boia fria. Havia decidido; juntaria dinheiro para levar o filho para sua terrinha, longe de todo esse caos da cidade. Não queria aquilo para ele. Arrumou as malas, decidida, e pegou o filho doente nos braços. Foi para a rua tomar um ônibus até a rodoviaria, porém, durante o pequeno trajeto do seu apartamento à rodoviaria foi tomada por um medo de proporção tamanha que fez com que pedisse desesperada para que o motorista parasse. Desceu apressada sem notar o carro que vinha em alta velocidade por detrás do ônibus.

O filho não conheceria a fome que assolou sua família durante aqueles felizes anos de sua infância.