Vidas Breves VI

Ele sempre teve quem fizesse as coisas por ele. Havia nascido com dinheiro, em berço de ouro, como se diz. Sua vida era cercada de cuidados e empregados lhe perguntando o que queria.

Cresceu acreditando que era normal ser ajudado a se vestir e se banhar; nunca havia amarrado o seu calçado, nem abotoado sua blusa. Não sabia dar nó em gravata ou pentear os cabelos; quando jogava golfe não escolhia seu taco.

Seu pai era Consul e quase nunca podia estar com ele, mas ele não sentia falta disso. Sentia sim, saudades de sua mãe, que havia morrido quando ele era pequeno e talvez por isso, não se esforçasse por fazer nada sozinho. Nem mesmo quando naquele acidente, em que voltava do jogo de golfe, o seu carro se desgovernou caindo do viaduto direto nas águas que se chocavam furiosas na pedreira próxima de alguma praia. Apesar dos ferimentos, foi salvo com "vida", e continua hoje sendo ajudado a fazer tudo.

Agora haviam acabado as esperanças de se encontrar com a mãe, deveria esperar a hora, como qualquer outro. Como tentaria de novo deitado numa cama?...