Histórias que gosto de contar – Dois perdidos em uma tarde fria

Histórias que gosto de contar – Dois perdidos em uma tarde fria

Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE,11 de julho de 2023

Era o primeiro dia na cidade de Göttingen, localizada na Baixa Saxônia (Niedersachsen), Alemanha, junto ao Rio Leine. Ela abriga a Universidade Georg-August, a maior e mais antiga da Região, com cursos ligados à Educação e Ciência, onde mais de 20% de seus habitantes são estudantes, e outros direta ou indiretamente ligados à Universidade. Fomos para lá, início de 1995, participar de treinamento no laboratório de análise de solos, água e tecido vegetal, para o Projeto SHIFT para Sistemas Agroflorestais, que contava com a participação da EMBRAPA, Ceplac e Faculdade de Ciências Agrárias do Pará. Esse programa recebia alunos de doutoramento da Alemanha, para desenvolver projetos de pesquisas na área de Engenharia Florestal.

Chegamos em companhia de um dos coordenadores do projeto, que nos recepcionou no Aeroporto, em Frankfurt e nos levou até Göttingen, de trem. Passou a noite no apartamento colocado à nossa disposição e, no outro dia, iria para outra região, nos deixando sós na desconhecida cidade.

Pela manhã, fomos deixar o professor na bahnhof, estação de trem em alemão. No caminho dizia-nos, para mim e minha esposa, para prestarmos muita atenção e gravássemos alguns pontos, para facilitar nosso retorno ao apartamento, disponibilizado pela Universidade, como local de hospedagem. Gravamos alguns pontos, mas as ruas se pareciam muito, com suas casas muito semelhantes, geralmente brancas, com as fachadas contendo vigas de madeira, verticais, inclinadas e horizontais, formando estruturas de enxaimel – Fachwerk, em alemão, que nos confundem bastante. Para nós, as ruas pareciam fazer um círculo em torno do prédio da Prefeitura local - Rathaus, todas estendendo-se nos diferentes sentidos. Rodamos umas três vezes e o lugar de chegada era sempre o mesmo, a praça da prefeitura, foram quase duas horas de procura. Já estávamos cansados e dispostos a pedir o socorro dos bombeiros, para nos levar até nossa rua. Resolvemos fazer mais uma tentativa para localizar nosso endereço, não ficaria bem, já no primeiro dia causar preocupação aos valorosos soldados daquela corporação.

Percorremos o mesmo caminho trilhado anteriormente, e ao passar por uma rua, ouvimos algumas garotas brasileiras falando alto. Estavam de bicicleta, seis ou oito, todas esportivamente vestidas, era um domingo. Nos aproximamos, mostramos um papel onde o professor havia colocado o nome da rua onde estávamos hospedados. Elas, ao mesmo tempo, apontaram para a direção que deveríamos seguir. Uma delas até nos levou até ao nosso destino. Agradecemos, e antes de a garota retornar para o seu grupo, nos passou um mapa indicando um endereço que nos levaria a uma casa, onde seria realizada uma festa, logo mais à noite, pela despedida de uma delas, uma mineira.

Com o convite à mão, logo que escureceu, partimos para a nossa primeira festa na Alemanha. Não tínhamos expectativas, desconhecíamos os costumes locais. Os presentes eram todos alunos da Universidade, amigos e amigas da turminha de bicicleta, que nos auxiliaram para encontrarmos o endereço de nossa morada provisória. Verificamos como brasileiras e brasileiros, bem como os alemães e alemãs, já bastante entrosados, bebericavam coquetel de frutas com álcool, drinks leves e gostosos. Foi uma noite de confraternização entre povos, apesar da despedida de uma delas. A volta para casa foi tranquila, os cartazes afixados nas paredes dos muros das casas e postes de rua, que indicavam o local da festa, ainda se encontravam lá.

Na primeira noite passada em cidade alemã, tiramos de letra. Sabíamos que não seria fácil até nos acostumarmos naquele ambiente. O que seria nossa moradia por aqueles tempos, ficava no centro da cidade, onde muitos estudantes universitários viviam, jovens entre 18 e 30 anos de idade, 40% da população. Isso nos tranquilizava, fomos informados que não havia violência, poderíamos sair a qualquer hora do dia, que não seríamos molestados. E assim se deu a nossa primeira experiencia de morar em um país europeu, a Alemanha já unificada, que não assustava a mais ninguém. Seu povo, ao contrário do que acreditávamos, são pessoas, na sua maioria, prestativas e educadas. Voltamos para o Brasil, alegres e satisfeitos com o que vivemos e aprendermos.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 11/07/2023
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