Em pleno aniversário, caí no conto do Baú da Felicidade.

No dia 10 de novembro de 1965, eu completava 10 anos. Era o meu aniversário!

Minha mãe fez um belo bolo em forma de castelo todo colorido. Arrumou a varanda com mesas e cadeiras para os convidados. Todo feliz, perguntei: - Mamãe, quem vem na festa? - Vixe, meu filho é tanta gente que não sei se terá lugar para todos. Vovô, vovó, tio Toninho e tia Elda; tio Luiz, tia Albertina já estão chegando, e tia Elza está vindo de Minas e me disse que lhe dará um grande presente. – falou minha mãe, enquanto dava os últimos retoques para a festa. "Grande presente", pensei eu. Logo me veio à cabeça: uma bicicleta, um forte Apache, carrinho de rolimã e até um autorama encheram minha imaginação. Bem, tocou a campainha. – Vá atender meu filho, os convidados estão chegando, disse mamãe, sorrindo. Ao abrir a porta, só olhava para as mãos dos convidados para ver o tamanho dos pacotes. Meu avô me deu um abraço e disse: - Aqui está o seu presente! Em seguida, tio Toninho e tia Elda me deram outro forte abraço e parabéns. Tio Luiz e tia Albertina fizeram o mesmo. Agradeci a todos, mas o que eu aguardava com ansiedade era o grande presente que tia Elza me daria. Bem, na varanda todos se sentaram e começaram a conversar. – Ontem eu peguei esse garoto no colo. Olha só como ele cresceu hoje! – falou vovô. – Está com a mesma carinha de bebê! Que fofura! – emendou vovó. Os elogios continuaram com tio Toninho e tia Elda. E eu só ficava a olhar para a campainha, esperando ansiosamente por tia Elza e o meu grande presente. Exatamente às 15 horas, horário do meu nascimento, ouvi um ding-dong! A campainha tocou. É tia Elza! – pensei eu. Ao abrir a porta, lá estava, de mala e cuia, descabelada e cansada, sabe quem? A tia Elza! – Oh... meu sobrinho lindo, desculpe a demora. É que o trem fez muitas paradas, mas finalmente aqui está o seu presente! Na hora, a minha alegria murchou. Era um pequeno envelope, mais ou menos, uns 15 centímetros de comprimento e 4 de espessura. Fiquei parado, mas minha mãe toda risonha falou: - Abra, abra, meu filho! Ao abrir o presente, vi a inscrição: “Baú da Felicidade”! Felicidade? Que felicidade é essa, titia? Ela toda radiante, respondeu: - O “Baú da Felicidade” é um programa de televisão muito famoso que oferece prêmios incríveis para as pessoas que compram! Toda animada, emendou: - Eu decidi comprar um para você, meu querido sobrinho, e tenho certeza de que você vai adorar. É ir a uma loja do Baú e escolher o seu presente. Tenho confiança de que será algo maravilhoso! Ouvindo aquilo, eu torcia para que todos fossem embora logo, para que eu pudesse ir à tal loja do Baú e escolher o meu presente. A expectativa era grande e mal podia esperar. Enfim, ao cair da tarde, eu soprei a velinha do aniversário e todos se foram. Naquela noite, mal consegui dormir de tanta ansiedade. No dia seguinte, minha mãe e eu pegamos o ônibus direto para a loja Tamakavy na Vila Galvão, em Guarulhos. Lá chegando um senhor nos atendeu e bradou: - Você é um felizardo! Silvio Santos vem aí! Pode escolher o seu presente! Enquanto o homem esbravejava, eu olhava a loja procurando uma bicicleta, um forte Apache ou um carrinho de rolimã. As vistas embaçaram de tanto brilho. Mal, mal conseguia enxergar! Querem saber o final? Infelizmente, após ter contato essa história há muitos conhecidos e amigos, conto de novo: - O brilho que embaçava as minhas vistas eram panelas, frigideiras, penicos, bacias....Minha mãe ficou muda por alguns instantes, mas logo encadeou: - Tome, meu filho, leve essa canequinha. É igual àquela que a vovó serve no café! Podem dar risadas! Baú é um nome sugestivo. Traz a impressão de um grande tesouro, não é assim? É! O meu foi o da “felicidade” de ganhar uma caneca de louça! E essa história ainda não terminou. Anos depois, minha mãe estava assistindo televisão e gritou: - Venha ver, meu filho! É a tia Elza no programa do Silvio Santos. Quando cheguei na sala, ouvi Silvio perguntar: - Qual o nome da senhora? - Elza Lacerda. - De onde a senhora veio? - Minas Gerais, Muriaé. – É nossa cliente do Baú? Quando ouvi "Baú", deixa pra lá! Ponto Final!