Presença de Anita
A Joelma saiu da casa da patroa bem apressada.
Já está indo embora dona Joelma?
Desculpa patroinha, mas tenho que chegar logo em casa para preparar o jantar do Antônio.
Tu sabes que não gosto que me chame de patroa. Nestes tempos nunca se sabe o que as pessoas vão pensar. E, ademais, que história é esta de medo de marido?
Pois é, ele chega da construção, toma banho, janta e vai jogar sinuca no bar da esquina. Se a janta não estiver pronta ele mete bronca. A gente não anda bem faz um tempão.
Ele mete bronca? Como é que tu aguentas isso minha menina?
Eu amo o meu Antônio – disse a Joelma quase saindo no portão.
Espera. Espera.
A patroa correu lá dentro de casa e voltou com um embrulho na mão.
Faz a janta, depois toma um banho e coloca esta peça de roupa.
Mas o quê? Pra quê?
Não faz tanta pergunta e anda que tu estás atrasada.
E lá se foi a Joelma ligeirinho rumo a casa. Mal chegou e já foi destrinchando a galinha para o risoto, depois arrumou a mesa com um prato só e foi tomar banho.
Ao abrir o pacote que a patroa lhe deu, viu que era um lindo xale vermelho, que ela rodopiou no ar e foi cair certinho nos seus ombros morenos e ainda molhados.
E estava assim, admirando a própria beleza, quando ela viu o marido entrar no banheiro. De repente, deixando o pudor e as mágoas de lado, ela abriu a porta do box e ficou ali parada, muda de medo.
Sabe aquele segundo que parece uma eternidade? Pois é, ele passou bem ligeiro, mas não tão ligeiro quanto os braços do Antônio, que enlaçaram a mulher para debaixo do chuveiro.
É momentos assim são inesquecíveis e podem consertar muita coisa errada.
Nem é preciso dizer que, na segunda-feira, a Joelma chegou cantarolando na casa da patroa.
Então? Deu certo né sua danadinha... Eu te dei o “xale da Anita”, aquela que foi a heroína da Revolução Farroupilha, eu comprei em Santa Catarina, dizem que é milagroso, sabe como é reacende a paixão, como a do general por sua amada.
A Joelma engoliu em seco, pois não entendia nada de História, ela só sabia que, depois do amor gostoso, depois dos ponteiros acertados, das desculpas e juras, dos carinhos, dos mil beijos e tudo o mais, o Antônio se engraçou no xale e disse que ele servia muito bem para cobrir o rosto e proteger os olhos da poeira de cimento, que levantava na obra.
Vou ficar com xale. A senhora não se importa?
Claro que não, sua boba.
Assim, a Joelma foi trabalhar bem tranquila sabendo que, daquele dia em diante, sua felicidade matrimonial estava bem garantida.