Foto: CANVA

UM PAPAGAIO NO XADREZ

 

Vou contar uma história muito engraçada... Há muitos e muitos anos... Numa pequena cidade do Ceará, uma peripécia causou muita indignação e revolta aos seus moradores. De tudo já tinha sido visto por ali, falou Jacinto, um antigo morador – mula sem cabeça, lobisomem, chupa-cabra, morto, levantar do caixão, casa mal-assombrada, alma penada, dentre muitos outros acontecimentos. Mas um Papagaio na cadeia, jamais! Nem aqui, nem nos confins do mundo, dizia Jacinto. Ele contava que Cornélio morava sozinho, tinha chegado na cidade vindo de muito longe, mas pouco se sabia dele. Vivia da caça, morava num pequeno casebre coberto de palhas de carnaúba nos arredores da cidade. Numa de suas caçadas, acompanhado de seu cachorro Leão, encontrou um bonito Papagaio ainda despenado, no oco de uma árvore na mata fechada. Deu-lhe o nome de Chico, era muito bem cuidado. Cornélio fazia questão de falar – é o filho que não tive, meu companheiro. Mas um dia, chegando em casa, o Chico não estava, aflito, saiu louco, desesperado a sua procura. Perguntava a todos que cruzava – você viu o meu papagaio Chico? Até que depois de muita busca, alguém falou que tinha visto um Papagaio na casa do seu vizinho, pediu sigilo e, ensinou o caminho. Depressa Cornélio foi atrás, chegando o homem foi logo dizendo que o Louro era dele, tinha ganhado de um parente e que não entregava. Voz alterada falava – O Papagaio só sai daqui, passando por cima do meu cadáver. A confusão foi muito grande, Cornélio gritava e chorava desesperado, o Papagaio também berrava alto – Socorro, Cornélio! Socorro, Leão! Uma multidão se formou em volta, a Polícia, foi chamada, sem êxito, resolveu levar o Papagaio para o xadrez, para evitar uma tragédia. Na cadeia, colocado numa sela com grossas grades de ferro. A notícia se espalhou rápido, causando muita algazarra na cidade, o povo revoltado, todos querendo saber o porquê do pobre Papagaio na prisão. Filas se formam para visitar Chico, todos que passavam perto do papagaio ele dizia, -- me dar o pé louro, quero café... Socorro Cornélio! Socorro Leão! E assim, foram dois dias na pesada e solitária sela, a população revoltada com a injustiça ameaçavam invadir a delegacia. Cornélio enlouquecido pediu ajuda ao padre da paróquia, este, foi falar com o prefeito, que foi se ter com o delegado. Depois de muita conversa o Papagaio foi liberado para o seu verdadeiro dono. Solto, o Papagaio enfurecido saiu falando muitos palavrões. O homem que se dizia dono, levou uma dura de cassetete, para nunca mais se apossar do que não lhe pertencia. Os moradores da cidade acompanharam o cortejo pulando e cantando até a casa do senhor Cornélio que eufórico agradecia a valiosa colaboração. Chico batia as asas e gargalhava muito alto, repetindo: -- Oi de casa... Oi de fora... Quero café... Cornélio, seu fela da mãe!

Maria de Fátima Fontenele Lopes
Enviado por Maria de Fátima Fontenele Lopes em 05/09/2023
Reeditado em 05/09/2023
Código do texto: T7878338
Classificação de conteúdo: seguro