Madrugadas e madrugadas

Não sei se é só comigo, a madrugada me faz pensar melhor, o sangue corre mais rápido, areja o cérebro e faz os lampejos, as sinapses ocorrem mais facilmente. Todos os meus escritos nasceram depois da 01:00 da manhã. No trabalho sou um dos poucos que gosta de labutar neste horário... acho que devo ter algum problema e ao mesmo tempo tenho o incentivo de saber que todos os grandes poetas eram amantes do sereno da madrugada. Sei que não sou nenhum poeta, ainda mais um grande poeta, nem tenho tanto material como eles tem, nem tanta inspiração, aspirações, paixões, decepções... quem sabe algum dia....

Minha alma e maré, hora cheia hora vazia, hora com peixes, hora com aves comendo nas areias enlameadas cheias de comida para tais seres. As idéias são lampejos, apesar de que todas já foram tidas, nós só pegamos a mesma coisa, o mesmo sentimento e o expressamos de uma forma diferente. A mesma música pode ser interpretada de várias formas, por vários cantores e ouvintes. Nossa vida gira em sentimentos já sentidos por todos, sentimos amor, raiva, ciúme, decepção e o mais comum, sentimos pena de nós mesmos.

Temos que ter boa vontade para não esmorecer, nas menores coisas temos que ter vontade, é delas que provém as grandes. Na semente que vira Carvalho, temos o exemplo, ninguém nasce grande, podemos até nascer para sê-lo, mas isso ocorrerá a seu tempo. Somos do tamanho que pensamos ser. Numa situação difícil existe sempre dois personagens, o que chora e se desespera, e o que ganha dinheiro vendendo lenço...

O silêncio da madrugada, reafirmo, me seduz. Tudo na madrugada e bom. À noite podemos sentir o cheiro do mato, da maresia, isso tudo lembra aquele carnaval, naquela praia, com aqueles amigos, aquela pessoa especial, naquele momento com a sua família....Os barulhos, as luzes... chega um momento em que tudo se torna etéreo e você já não sabe o que e verdade e o que você gostaria que fosse, o que aconteceu, a incerteza quando se vai repetir.

A madrugada tem mais poder do que se imagina, ela é a mãe do boêmio, a cafetina da meretriz, o ombro amigo do infeliz, o copo do ébrio. Não há bonde ou ônibus que tire um rebento de seus braços. A madrugada encanta, o dia tem o Sol, nunca se ouviu falar em declamação de poemas à luz do sol, e a Lua... a madrugada tem a Lua, sua luz vem do Sol, porém, seu charme é especial. A lua inspira poemas, romances, encontros às escondidas, aquele beijo roubado, aquele 171 que você meteu naquele dia só pra sair com aquela garota da rua, ou do trabalho... isso é a madruga.

Quando se volta, embriagado ou não, pela rua e encontra com os mendigos e outros desafortunados ficamos todos igualados, estamos sob o mesmo sereno. Depois de um dia , ou uma madrugada de trabalho, não há nada melhor do que ver o nascer do sol na praia do Leme ou de frente para o Pão de Açúcar, ainda não tentei isso com algumas caipirinhas na mente, vou fazer qualquer dia. O espetáculo, que é a madrugada, não pode ser encerrado de qualquer forma e ainda tenho mais três pela frente, inclusive a do dia 24 para 25 de dezembro (sim eu trabalho Natal, minha mãe falou pra eu estudar...).

A madrugada é dos loucos... é de todos os que tem coragem de não dormir, de se jogar nos braços de Dionísio e mandar Morfeu as favas. A madrugada é nossa, os escritores, pensadores, sofredores, românticos... enfim é de quem quiser, é o nosso espaço mais democrático, é a hora em que os homens choram e as fraquezas vêm se mostrar. Curtamos a madruga, uma das poucas coisas que ainda é grátis e sem fila.

Boas Festas a todos os amigos recantistas!!!

Símio
Enviado por Símio em 23/12/2007
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