A porta que não queria ficar aberta

Todas as pessoas - sem exceção, até mesmo as que negam - lembram-se de um detalhezinho da época da escola; seja aquela professora, aquele coleguinha, aquele lanche, as brincadeiras, enfim, uma infinidade de particularidades.

Para quem convive no ambiente escolar - pelo fato de ser este seu trabalho - consegue contar diversas, divertidas e infindáveis histórias. O velho jargão é válido também para este lugar: aluno é tudo igual, só muda de endereço. Ainda que hoje tenhamos um público um pouco diferente da "nossa época", eis aqui outro jargão, algumas falas e atitudes são exatamente as mesmas.

Estávamos nós, eu e os alunos, em um dia como qualquer outro. Após dois de intenso calor (quase chegamos aos quarenta graus, que afronta) o tempo mudou drasticamente. Caiu a temperatura, e os ventos que são comuns a agosto - agora é final de setembro - visitaram-nos novamente.

As janelas da nossa sala, que ficam constantemente abertas, não estavam contendo tamanha fúria do movimento: precisamos fechá-las, e a pouca fresta não era o suficiente para a corrente de ar, o que nos levou a deixar a porta (que fica praticamente todo o tempo fechada) aberta. Esta, no entanto, não quis cumprir o comando; ora, não a culpemos, o vento estava agitado, lembram?

A fim de que alcançássemos nossa meta, apoiamos a lixeira; a mesma, tal qual a porta, não suportou a bravura atmosférica. De fato, manter a porta aberta estava longe de ser executado.

Investimos, então, numa mochila: ah, ela sim conseguiu o feito! Pesada que é - alguém já viu mochila escolar ser leve? - atingiu o objetivo.

Os alunos, observando todo aquele alvoroço e curioso caso, resolveram dar um ar de "alunice" (inventei este termo agorinha mesmo; criança não faz criancice? Pois bem, aluno faz alunice).

Sabidos, travessos e criativos que são, nomearam o episódio como "a porta que não queria ficar aberta"; parecia dengo e teimosia, mas nós percebemos que era, mesmo, inquietação. A pobre deve estar cansada, relevemos.

A lixeira, que quis acompanhá-la, ganhou também uma atenção especial: "tia, e se contássemos a história "d'a lixeira que não queria estudar"?"Sim, com certeza". Afinal de contas, quem conta um conto, aumenta um ponto. Aluno nem ama um ponto na nota...

Luciana Arima
Enviado por Luciana Arima em 03/10/2023
Código do texto: T7900222
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.